Caxias do Sul - Rio Grande do Sul - Brasil

Diário online do ator Márcio Ramos - relatos, pensamentos, agenda, críticas...

quinta-feira, 31 de março de 2011

DIA MUNDIAL DO TEATRO - Festa da ACAT

Dia 25/03/2011, no Aristos Pub, aconteceu a festa do DIA MUNDIAL DO TEATRO, promovida pela ACAT - Associação Caxiense de Teatro. Lá muita gente bacana, teatreiros: atores, professores, diretores, produtores, alunos, simpatizantes, etc...
Fazer teatro e, de sua arte, um instrumento "instigador" para a sociedade é extremamente necessário. Mas também precisamos de festa!!!! E nada melhor que reunir um grupo de artistas maravilhosos para se divertirem juntos.
Lá, estavam a coordenação da ACAT, o elenco da Cia2 - Grupo de Teatro, alunos e professores do Espaço Multicultural, Sala de Ensaio, Tem Gente Teatrando, Gente EmCena, entre vários outros.
Aí vai algumas fotos da festa!


E que venha a próxima reunião dançante...

CARTA DE OSASCO

Essa carta foi realizada no Congresso Brasileiro de Teatro. No momento da finalização, criou-se uma carta (leiam abaixo), que será endereçada a disseminada em todas as instâncias, com solicitações para os artistas de teatro!!!
 
Peço que Leiam, e se puderem postem em seus blogs, sites e demais instrumentos de divulgação, pois o encontro teve, inclusive, 6 representantes do Rio grande do Sul (todos da capital) mas as lutas são gerais e nos atingem aqui em Caxias e região!
 
Abaixo segue a carta:
    CARTA DE OSASCO
O Congresso Brasileiro de Teatro, realizado em Osasco, São Paulo, nos dias 26 e 27 de março de 2011, que reuniu profissionais do teatro nacional de vinte estados e do Distrito Federal, com os objetivos de:
discutir e refletir sobre as atuais políticas públicas culturais executadas pelas instâncias públicas e privadas;
e assegurar o debate e a implantação das propostas do setor teatral elaboradas e apresentadas à sociedade e ao Estado, ao longo dos últimos oito anos, decidiu:
*considerando os relatos dos congressistas que comprovam que os espaços públicos no Brasil tem sido privatizados, por meio de cobrança de taxas, proibição aos artistas de exercer seu ofício, com o uso de violência física e moral, apesar do artigo 5º da Constituição Federal Brasileira garantir o direito de ir e vir e a liberdade de expressão, entendemos que a mesma está sendo desrespeitada nas instâncias municipal, estadual e federal;
- elaborar instrumentos jurídicos que regulem a ocupação dos prédios públicos ociosos, bem como imóveis que tenham possibilidade de agregar os artistas;
- criar uma comissão para impetrar uma carta-denúncia que deverá ser entregue em audiência com a Ministra da Secretaria Nacional de Direitos Humanos;
- apoiar o projeto de lei federal apresentado pelo Dep. Fed. Vicente Cândido, lido em plenária, que regulamenta a garantia deste direito. 
E, também,
considerando os esforços realizados no Congresso Brasileiro de Teatro (1979, em Arcozelo) Movimento Brasileiro de Teatro de Grupo (anos 80), o Movimento Arte Contra à Barbárie (1998), Redemoinho (2004-2009), Rede Brasileira de Teatro de Rua (2007), que culminaram na elaboração da Lei Prêmio do Teatro Brasileiro,
- exigir, em caráter de urgência, a sua votação pelo Congresso Nacional e, posteriormente, a sua implementação pelo Ministério da Cultura;
- fazer mobilização nacional pela votação imediata do Prêmio Teatro Brasileiro;
A plenária do Congresso Brasileiro de Teatro exige, ainda:
- aprovação imediata do Projeto de Lei PROCULTURA, no qual está inserido o Premio Teatro Brasileiro, com dotação orçamentária própria em Lei especifica;
- a execução, pela FUNARTE, dos editais relacionados ao Fundo Setorial de Artes Cênicas;
- a definição do dia 27 de março como o Dia Nacional de Mobilização do Teatro;
     Ficou decidido que a data do 2º. Congresso Brasileiro de Teatro será dias 06,07 e 08 de abril de 2012 em Brasília, Distrito Federal.
         Osasco, 27 de março de 2011, Dia Mundial do Teatro

domingo, 20 de março de 2011

2011 - Do Sétimo Andar (curta metragem)

Ainda no clima de 2010, ano de intensa produção pra galera da Cia2, nos aventuramos numa linguagem diferente - saímos dos palcos de teatro e fomos para o cinema.

Quem acompanha a Cia2 sabe que eu, Márcio Ramos, gosto de me aventurar em setores diferentes da atuação e às vezes vamos parar em "palcos" diferentes. Pra não acharem que - do nada - resolvi escrever um roteiro pra cinema, atuar e produzi-lo, vou abreviar minhas experiências passadas no cinema. Em 2007, após fazer parte do elenco da peça "Extremos", escrita e dirigida por Ana Fuchs, após várias temporadas da peça, ela virou um média metragem nas mãos do pessoal da produtora Spaghetti Filmes. Mais tarde, no início de 2009 filmei um curta chamado "Hoje" (dirigido por Caroline Barrueco), e durante o processo de filmagem observei bastante os bastidores na tentativa de absorver o maior número de informações. Também em 2009, o artista/desenhista e também escritor Frank Furtado - FTF, me convidou para chamar atores para um curta que ele estava desenvolvendo, junto ao SESI, e acabei conquistando o papel de protagonista do curta metragem "Cessar Samsara". Nesse último projeto, outros atores da Cia2 também participaram: Camila Cardoso, Rachel Zílio, Gabriel Leonardelli, Gabriel Zeni e minha aluna Carina Corá. Com essas experiências no cinema, era hora de arriscar novamente.
No início de 2009 escrevi o texto de 5 irmãos, que já imaginava virar um curta. Lembro que procurei colocar várias experiências da minha família ali naquela história: vários irmãos, personalidades diferentes, conflitos, problemas com drogas... Coloquei tudo ali. Pra facilitar, escrevi a história pensando nos atores que seriam meus irmãos na tela - Gabriel Zeni, Douglas Trancoso, Gabriel Leonardelli e Matheus Brusa.
Como todos temos pequenas semelhanças, seria fácil adaptar para virarmos irmãos.
Uma coisa que acho interessante deixar claro é que eu não possuo nenhuma aspiração de virar escritor - escrevo por necessidade. Num momento decisivo da minha mini-história como ator, coloquei algumas metas e para atingi-las - se necessário - iria criar as minhas oportunidades. Se quero atuar e ninguém lembra de mim, me faço ser visto, mas através de trabalho. Se queria participar de mais curtas, e as oportunidades não eram tantas, eu monto o circo todo para poder desenvolver essas oportunidades. No final, esses projetos que eu invento acabam sendo de um aprendizado sem limites, do que apenas receber um texto e personificar tal personagem para outros.
Voltando ao projeto... Com o texto pronto, o próximo passo seria mostrá-lo aos outros atores e propor um projeto de financiamento para produzir o curta.
Reuni os guris, juntos com a Rachel Zílio, que seria a produtora do curta comigo e a proposta foi aceita.
Aqui a ralação começou! Eu e a Rachel nos encontrávamos várias vezes para escrever o projeto.
Era momento de pesquisar, justificar, selecionar profissionais, colocar tudo no papel... Toda a função de produtores - fazer o projeto ser algo "palpável" ao ler ele todo estruturado.

Paralelo a esse momento, eu recebi aulas preciosas com a Isa Molino - colombiana com duas faculdades de cinema - para me dar auxílio na estruturação do roteiro.
Em 1 hora ela me mostrou como criar um roteiro literário e técnico, com todas as dicas e toques que ela poderia dar. E eu ali, como uma esponja absorvendo tudo. Chegava em casa e procurava acrescentar tudo no meu roteiro. Ela me passava seu conhecimento como uma verdadeira educadora, professora - a Isa nunca chegou a pegar meu roteiro e dizer o que eu deveria fazer. Ela me ensinou, usando outros roteiros como exemplo e depois me dizia: "Agora faz isso no teu roteiro!". Uma coisa que tive que me adaptar foi a ver o texto como imagem, pois filme/cinema é pura imagem. Lembro também ela me falando da necessidade de colocar tudo no roteiro, para entregar ao diretor do filme, o Dudão Garcia - da Generall Vídeo Produtora: "Ao ler teu roteiro o Dudão deveria conseguir ver o que eu queria de imagens, mas tudo escrito como eu imaginava. É o momento de tu contar essa história, em imagens, pra ele!"
Gente, que trabalheira! Além de construir o projeto com a Rachel, eu ia finalizando o roteiro (aqui vou fazer um adendo - nem eu e nem a Rachel vivemos somente disso, todos temos outros empregos, que nos ajudam a "sobreviver", toda essa dedicação era feita em momento pós-trabalhos, e tudo isso sem a certeza que teríamos o projeto aprovado. Falo isso para que estiver lendo realmente admirar os produtores culturais de suas cidades.)
Tudo pronto, enviamos o projeto para o FINANCIARTE, da Prefeitura de Caxias do Sul, com o proponente sendo o Gabriel Leonardelli.

Nesse momento percebemos que esse viraria um projeto-anexo da Cia2, pois mais da metade da equipe era da Cia2. Para verem como somos loucos, paralelo com o curta estávamos desenvolvendo as peças "Ao Quadrado", "Ali-se" e "(E)Terno" - sem dúvidas 2010 ficará gravado em nossas vidas!
Não lembro agora quando descobrimos que o curta havia sido aprovado, mas foi no mesmo edital do "Ali-se".
Na ocasião eu fiquei muito feliz, mas não somente pq o filme viraria algo real. Percebi que esse havia sido o primeiro texto/roteiro meu que seria produzido com verba de financiamentos. Pessoas qualificadas receberam projetos, leram e escolheram o meu roteiro. Aos 25 anos tudo estava acontecendo tão rápido.
Passamos o ano de 2010, de Janeiro até Agosto realizando a pré-produção do filme. Nesse processo, pro motivos de outros compromissos "perdi" um dos irmãos do filme - o Matheus. A princípio foi muito frustrante saber que alguém que eu havia escrito o personagem pensando nele, na pessoa dele, não iria fazer parte do filme. Mas aí estava eu e Rachel encabeçando a produção e procurando resolver todas situações que apareciam.
Nesse momento ganhamos uma renovada no projeto, com a adesão do ator Vinicius Padilha no projeto, escalado para o personagem que havia ficado sem ator. Quem nos conhece pessoalmente sabe que o Vini não tem nenhuma semelhança física com os demais atores - assim alterei pequenas coisas no roteiro para ele ser nosso "irmão de criação", seja adotado ou apenas emprestado, coisa que acontece em muitas famílias.
Esse processo de pré-produção foi o mais difícil pra mim, pois aqui eu vi coisas que eu havia escrito, criado, serem reviradas e tratadas como "material", pelos demais profissionais. Não estava acostumado com isso, os demais projetos que havia produzido (p/ o teatro) sempre focou muito o desenvolvimento de minhas ideias e ali não era isso que acontecia. Cinema é uma verdadeira "colcha de retalhos", cada profissional (diretor de arte: Giovana Mazzochi e Douglas Trancoso, de fotografia; Isa Molino, editor: Evandro Garcia, diretor: Eduardo "Dudão" Garcia, produtor: Rachel Zílio e Márcio Ramos, atores: Douglas Trancoso, Gabriel Leonardelli, Gabriel Zeni, Márcio Ramos e Vinicius Padilha) desenvolvem seus cargos e um soma ao trabalho do outro. Novamente, novas experiências de crescimento.

Durante o processo, tomei uma postura de não misturar meus diferentes cargos - quando eu seria ator, só seria ator, não atuaria como produtor. O mesmo com o escritor, que acabei deixando bastante de lado. As vezes os atores questionavam coisas sobre seus personagens e sobre a história e eu pensava: "Quero que eles me vejam como colega de elenco, não escritor. Quero ficar no mesmo clima deles, sem diferenciação de cargos." Ajudou em alguns momentos, mas em outros eu senti que poderia ter acrescentando TANTO, e acabei me calando. Mas aprendizado é isso...
Um momento muito mágico, na pré-produção foi a preparação de elenco, com o diretor/professor Raulino Prezzi. Ele conduziu a preparação com tanta maestria que chegamos a comentar: "Nós atores já éramos amigos, mas após o trabalho com o Rau nós nos tornamos irmãos!".
Quando começaram as filmagens, descobri que o aprendizado não havia chegado nem na metade.
Como disse Fernanda Montenegro: "Cinema é a arte da espera". Gente, como atores tem que ser providos com a qualidade da paciência. As vezes filmávamos 30 minutos e esperávamos 3 horas até a próxima cena.
Claro, isso num projeto independente, que mesmo tento financiamento, a grana recebida não chega nem a 1/3 do necessário para realmente desenvolver um curta com toda qualidade necessária. Sendo assim, tínhamos poucos profissionais na técnica, cada um desenvolvendo funções além de seus cargos.
Gravamos aos finais de semana, em geral eram cerca de 20 horas de trabalho por dia de filmagem.
Lembro de um momento onde teatro e cinema se distanciaram como nunca pra mim. No teatro (como falei no post anterior), quando encontramos a verdade do momento em cena é delicioso, e não existe "quebra", pq em cena desenvolvemos essas emoções num crescente, ao vivo, como na vida real. No cinema eu já estava ciente da quebra de clima, com tantos cortes, "takes", planos e repetições. Mas dentro de cada um deles (por mais pequenos que sejam) temos a chance de entrar no clima do personagem e encontrar a verdade daquele "take". Numa das minhas cenas mais dramáticas, onde meu personagem se "abria emocionalmente" pela primeira vez com os irmãos, presenciei o cinema em sua totalidade:
Quem assiste a cena, pensa que todos atores estavam juntos na cena, mas como o quarto onde filmamos era pequeno, eu tive que filmar minhas cenas sozinho, sem os irmãos. Era necessário eu olhar para marcas na parede e imaginar os atores ali. O desafio era construir o "desmoronamento emocional" do personagem, porém olhando para uma parede - sem ter a reação dos atores na minha frente, pra trocar nossa energia.
Mas o maior desafio era me emocionar, cortar, parar a filmagem, me emocionar de novo, cortar, parar a filmagem... Lembro que o pessoal da técnica estava conversando e eu, em silêncio sentado numa cama tentando entrar no clima, mas a conversa dos outros me desconcentrava. Pensei em pedir silêncio, mas logo pensei: "Hum...vão achar que estou dando uma de diva, exigindo coisas!". Quando ia desistir de pedir silêncio, lembrei: pessoas irão assistir isso! Não importa se agora pensarem que estou "me achando", se preciso de silêncio para atingir o melhor material na filmagem, vou fazer isso.
Depois de pedir pelo silêncio, era hora de mostrar que ele faria diferença na minha atuação. Numa das repetições, onde eu havia realmente me soltado e atingido o ponto emocional do personagem, literalmente chorando com ele, um cachorro do vizinho começa a latir e a filmagem foi interrompida. Que frustração! Que raiva! Mas logo lembrei: "Não entra na energia do Márcio, de frustração. Não se permite a sentir o que tu está sentindo. Continua no personagem. Continua com a energia que ele tem que adquirir.".
Um processo psicológico de auto-controle, paciência, desafio... Tudo muito intenso.

Filmagem concluída, era momento de iniciar a pós-produção. Nesse momento, o trabalho maior ficou por conta da galera da Generall Vídeo Produtora, de montar, construir, editar e finalizar o filme.
Em Janeiro de 2011 marcamos a estreia do filme, e eu nem imaginava que outro forte momento emocional me esperava. Quando assisti o filme pronto, pela primeira vez, e vi ali todas as imagens que a Isa havia me ensinado a transcrever, todos os diálogos que havia escrito, toda a experiência do início ao fim - tudo veio a tona. Mas o mais lindo foi entrar no filme e assistir ele como material artístico pronto, palpável.
Quando estava acabando o filme, me controlei pra não desabar chorando. Chorando de felicidade, pois o filme havia se tornado real.

Até o próximo post,

Márcio Ramos

segunda-feira, 14 de março de 2011

2010 - Festa Nacional da Uva

No final de 2009 recebi um convite bem inusitado: coordenar um dos quadros do corso alegórico da Festa da Uva. Em conversa direta com o pessoal da UEBA, Jonas Piccoli e Aline Zilli, que estavam realizando a coordenação do desfile, descobri que seria um conceito diferente para esse desfile que já ultrapassou as tradições da cidade de Caxias do Sul, sendo um evento nacional. Aceitei, é claro! Adoro desafios...

Quando estavamos descobrindo como seria o tema do corso alegórico ("Nos trilhos da história, a estação da colheita"), que tinha concepção e coordenação artística de Renato Filippini e direção de desfile de Vinícius De Tomasi Ribeiro, conhecemos como funcionariam as coisas. O desfile seria dividido em 10 quadros, cada um contanto as últimas 10 décadas da história da cidade de Caxias do Sul. Eu nem sabia qual era o quadro que eu coordenaria, mas quando eles contaram a história do quadro quatro (na década de 40, quando explodia a guerra), senti muita curiosidade sobre esse período da história de caxias, que na escola nunca nos ensinaram - um momento sombrio, de dificuldades. Acabei gostando mais de Caxias, após conhecer esses dados, mas não comentei com ninguém que eu tinha me interessado por esse quadro.

Em reunião geral com todos coordenadores e instrutores, pra minha surpresa, eu iria cuidar justamente do quadro quatro.

Sinopse do Quadro IV - Explode a guerra na década de 40. O mundo veste o luto, o militarismo silencia as manifestações e todos caem na incompreensão. O desrespeito às origens faz desconstruir nossos símbolos e tradições. Poucos se erguem contra a guerra, muitos se sacrificam pela liberdade.

Com o auxílio de Israel Cabral, e movimentação cênica de Gislaine Sacchet, eu teria de conseguir cerca de 200 pessoas para desfilar, em parceria com entidades artísticas. Como sou bem atrapalhado para essas coisas, e o trabalho seria muito mais burocrático do que artístico, convidei minha amiga e colega da Cia2, Rachel Zílio, para dividir a coordenação do desfile.

No nosso quadro tinhamos as seguintes entidades participando: GenteEncena - núcleo Eldorado e núcleo Ana Rech, Servidores em Cena - Grupo da Prefeitura de Caxias do Sul, Cominidade Bairro São Caetano e alunos de teatro da UEBA. Além, é claro, dos integrantes da Cia2: Camila Cardoso, Gabriel Zeni, Gabriel Leonardelli, Guilherme Camelo, Carina Corá, eu e a Rachel.

Foi uma super pressão, principalmente nos dias iniciais de desfile, pois a população sempre esteve acostumada com uma enorme festa popular, representada pelo desfile de rua, e nesse ano as mesmas celebrações estavam muito mais poéticas do que festivas. O popular estava dando espaço para algo mais refinado - e o público não curtiu muito.

O quadro quatro sempre foi visto como algo arriscado, pois era o unico quadro dramático do desfile, então ele poderia não ser muito bem aceito. Mas em meio a críticas de todo desfile, nosso quadro acabou passando desapercebido por muitos - e sabe como são as coisas, quando um fala uma coisa negativa, a maioria passa a reproduzir aquela mesma mensagem sem ao menos questionar. Foi uma enorme lição para todos.

Uma crítica feita pelo jornalista Marcelo Aramis, ao Jornal O Caxiense, no dia 11/03/2010, eles destacam o quatro quatro como um dos pontos altos do desfile:
"Um dos pontos altos do desfile é também o que mais choca a expectativa acomodada. O carro - uma bandeira do Brasil desconstruída - representa o desrespeito às origens, a ditadura militar e a guerra. Vestidos de preto, atores encenam a claustrofobia e a dor da repressão. O público faz cara feia. A festa não é para celebrar os bons momentos? É, mas não só."

Mais um desafio aceito pela Cia2, e cumprido. Lembro que uma das críticas comuns na época era o motivo das pessoas que estavam desfilando não sorrirem tanto. Beleza, os outros quadros passarama  sorrir mais. Mas o nosso não tinha como, devido o assunto. Em determinados momentos eu presenciava atores emocionados realizando suas performances, em outros eu via participantes com alguma necessidade física especial desfilando com dificuldade, mas acreditando naquilo que estavam fazendo - é realmente tocanto como uma festa move tantas pessoas. Daí aparecia uma senhora, que estava assistindo o desfile (uma daquelas que deveria ouvir o programa de rádio onde radialistas trucidavam o desfile) começou a gritar para nós: "Sorriam! Sorriam! Vocês tem que sorrir!". Ela estava realmente alterada. Me aproximei dela e fiz sinal para o ouvido, para que ela prestasse atenção à narração do quadro, que ela entenderia o motiva da falta de dentes expostos. Não adiantou. Ela continou a gritar, mas dessa vez com a ajuda de uma outra senhora. Me aproximei mais e disse: "Se não quer ouvir, pelo menos pode respeitar?". Pra que eu fiu falar aquilo!?! A senhora, se pudesse, me batia ali mesmo. Fazer o que? Estávamos quebrando conceitos antigos, o que me fez adorar mais ainda essa experiência.

Abaixo, algumas fotos da galera da Cia2 nos desfiles:
Mas eu acho que o que chocou realmente o público foi isso:
Povo do teatro é fod@ mesmo!

Márcio Ramos

Críticas e Reviews - ALI-SE ...aqui ou acolá...

Espetáculo "ALI-SE ...aqui ou acolá..."


23/11/2010
Jornal Pioneiro
Coluna Sete Dias - "A Gente Viu!"

"Lá e cá da cena

Ali-se...Aqui e Acolá, que a Cia2 - Grupo de Teatro mostrou semana passada no Teatro Pedro Parenti, em Caxias, recria um clássico, inserindo questões, críticas, cacos. A queda no buraco, cena antológica de Lewis Carroll, é feita com projeção de vídeo, instaurando a trama sobre a legião de explorados pela, neste caso, Rainha de Ouros. Neste país, nem tudo é maravilha. As imagens de miséria e poluição evidenciam o caráter denunciativo da montagem. Cá entre nós: o tom maniqueísta, de prédica, que se repete, talvez, não fosse tão necessário. Um chapeleiro maluco e malemolente, à Carmem Miranda, põe o grupo para evoluir, com eficiencia, no samba do jogo cênico. Lá no palco, Beta Padilha, Camila Cardoso, Elvis Barbieri, Gabriel Leonardelli, Gabriel Zeni, Jéssica Pistorello, Rachel Zílio e Vinícius Padilha revelam uma saudável disposição para criar imagens corporais com inventividade.
O trio de cantores atrapalhados, as fitas elásticas vermelhas que prendem os personagens, a citação da brincadeira de imagem e ação e, particularmente, a cena das pastorinhas, com uma delicada referência à morte, finalizada na fusão da movimentação corporal com a imagem do telão, evidenciam acertos da direção de Márcio Ramos e Tefa Polidoro. As cituações irônicas ao universo dos sertanejos universitários e "restarts" são start para divertidas ironias - a rainha dando tchauzinho à soberana da Festuva, idem. São vários os pontos altos da empreitada, também valorizada pela luz de Juarez Barazetti. No entanto, há uma queda de rendimento quando os diálogos se alongam, o que pode ser resolvido à medida em que o espetáculo for mais encenado. Mas, no conjunto, o lá e cá da cena da Cia2 é uma bem articulada proposta na reta final da temporada teatral caxiense de 2010. (Por Carlinhos Santos)

domingo, 13 de março de 2011

Críticas e Reviews - Ao Quadrado

Espetáculo "Ao Quadrado"


02/08/2010
Site Queb - Qual é a Boa?
Coluna Ciranda -
http://www.queb.com.br/

"Eu Vi

Se a proposta era sair de casa, sentar, assistir e se divertir até não poder mais, ponto para eles. Estou falando do novo espetáculo da Cia2, que estreou na última semana, com sucesso de público e crítica. Com humor pra lá de ferino, a trupe comandada por Márcio Ramos, levou á cena quatro quadros que, diga-se de passagem, serviram de bofetadas para muitos espectadores. Sem pudores eles falaram de assuntos que muitas vezes só se falam embaixo dos lençóis, levando, muitas vezes o público ao êxtase da gargalhada (como diria Frejat - porque rir de tudo também é uma forma de desespero).
Destaque para Márcio Ramos no quadro Do Fundão, que faz e acontece com seu jeito debochado de ser, para Vini Padilha, que aos poucos vai descobrindo um certo equilibrio em suas interpretações e para Camila Cardoso que ganha reverência como destaque feminino em todo espetáculo (apesar de gritar muito no quadro Uma Vez Por Mês). Mas sem dúvida nenhuma, no melhor estilo Terça Insana, é Gabriel Leonardelli que arrasa no papel da "viciada" Virgem Maria, no quadro Maria Orgulhosa. Textos bons, mensagens boas, trilha sonora impecável e aplausos calorosos no final. Sem entrar no mérito de querer fazer o público sair do teatro pensando - você acaba saindo quadrado de tanto rir. Rejuvenescimento total." (Por Raulino Prezzi)

___________________________________________________________________

09/12/2010
Jornal Pioneiro
Agenda Cultural -

"Vale Assistir

Quando se vai ao teatro, o fundamental é encontrar verdade no jogo cênico que justifica a ocupação de um palco. Desde que surgiu, a Cia2 - Grupo de Teatro tem crescido justamente por se desafiar. Ao Quadrado é um exercício de grupo, de parcerias. Uns escrevem, outros dirigem, todos encenam. Trata-se de uma dinâmica busca de reinvenção. E, mais uma vez, eles apostam que o humor é um jeito bacana de conquistar o público." (Por Carlinhos Santos)

___________________________________________________________


02/08/2010
Site The Tramps
http://www.litcine.blogspot.com/

"(Cia2)

AO QUADRADO é uma busca pela simbiose entre a comicidade e o drama, e dá um sentido de unidade no repertório da tão recente Cia2 - Grupo de Teatro. Dentro do projeto "Novos Diretores", a companhia criou um espetáculo coral no qual os esquetes foram escritos e dirigidos pelos próprios atores, expediente este que, creio, auxiliou os mesmos a terem muito mais consciência de suas personas, de suas capacidades como corpos cênicos. Se colocamos os dois trabalhos, o da estréia e este, em perspectiva, há um enorme crescimento demonstrado, tão forte, na opinião deste que vos escreve, que não me parece entusiasmo infundado apontar AO QUADRADO como um dos trabalhos mais interessantes da recente produção teatral caxiense. Nos quatro esquetes podemos degustar textos bem escritos, cheios de referências da geração a que pertencem os artistas que geriram o espetáculo. Há momentos hilários, e tentar exemplificá-los seria condenar o leitor a muito mais linhas, pois não há como exaltar somente alguns destes momentos em detrimento de tantos outros.
Porém, quem conseguir transpor as gargalhadas proporcionadas pelo desempenho solto dos atores, então guiados por forças próprias, verá que cada minuto de AO QUADRADO, encenação que se apresenta abertamente cômica, contém discussões pertinentes, versa sobre alguns dos grandes temas dos quais falei no começo, e pelos quais tanto me interesso. Amor, dissimulação, ódio, tolerância, sexualidade, cegueira religiosa, tudo está lá, muito bem disfarçado pelos trejeitos do elenco, que se beneficia da abertura que o riso provoca para penetrar no público, para discutir assuntos de maneira tão ou mais eficiente do que numa montagem carregada de solenidade. A forma como a Cia2 - Grupo de Teatro combina estas tipologias, faz com que, perdoem-me o preconceito reincidente, eu classifique AO QUADRADO como sendo bem mais do que uma comédia, ao fazer do riso um meio, não um fim." (Por Marcelo Muller)

________________________________________________________________


07 a 13/08/2010
Jornal O Caxiense
Aritmética Teatral -

"MULTIPLICAÇÕES DE EXPRESSÕES
Na peça Ao Quadrado, da Cia2, o elenco divide funções e encontra a fórmula para garantir resultados positivos.

Acumular funções é comum, inclusive na arte. Roman Polaski escreveu, dirigiu e atuou em A Dança dos Vampiros. Woody Allen é autor, diretor e estrela de grande parte de seus filmes. No papel de Chaves e Chapolin, Roberto Gòmez Bolaños escrevia, dirigia, atuava e até vendia bala na porta do teatro. Diretores-roteiristas-atores, que são de tudo um pouco, ampliam a visão sobre sua arte.
Em Caxias, a proposta mais recente de uma cena multifuncional é da Cia2, companhia de teatro advinda do grupo Atores Reunidos. Duas companhias independentes com o mesmo núcleo de atores. A provocação veio do coordenador da Cia2, Márcio Ramos, no final de 2009. Com o nome de Novos Diretores, o projeto convidou os atores a uma troca de papéis. O resultado foi a peça Ao Quadrado, que motivou elogios além das atuações.
A peça estreou na última terça-feira (31) com o Teatro Municipal praticamente lotado. A sessão de sábado teve aproximadamente 250 pessoas, uma grande platéia para uma noite úmida e fria. São quatro esquetes com o pé na comédia. Não, com o corpo todo. Todas têm autoria e direção dos próprios componentes do grupo. A primeira é o pastelão LeguMaravilha, dirigido por Camila Cardoso e Vinícius Padilha. O ambiente é um programa infantil onde um casal verstido de tomate e cenoura animam a criançada e ao mesmo tempo se hostilizam. Em seguida, em Uma Vez Por Mês, com direção de Gabriel Zeni e Rachel Zílio, um marido enfrenta sua arqui-inimiga: a TPM da esposa. Depois, tem aula de educação sexual com três alunos mais do que escolados na esquete Do Fundão. A direção é de Gabriel Leonardelli, Gabriel Zeni e Márcio Ramos. O destaque da peça é Maria Orgulhosa, onde a Virgem é retratada como uma burocrata cansada de seu serviço, julgar as almas dos desencarnados. Direção nas mãos de Gabriel Leonardelli e Rachel Zílio.
O nome Ao Quadrado é resultado da seguinte fórmula: "nos dividimos em quatro núcleos para desenvolver o trabalho. Perdemos a unidade para ensaiar em quatro grupos pequenos. Então, a Cia2 virou quatro, ao quadrado", calcula Márcio, que segue carreira de ator profissional há nove anos e já teve experiência escrevendo e dirigindo anteriormente. Segundo o ator, esse era o momento de "colocar eles na roda". A intenção foi dar liberdade para cada um cuidar do conjunto de uma peça teatral. A oportunidade foi uma resposta natural ao crescimento do grupo. "Juntou a fome com a vontade de comer", brinca Márcio.
O resultado superou expectativas e mostrou que o ator pode ter interesse - e sucesso - em outras áreas além da atuação. "Eu escrevo não porque que ser autor nem dirijo porque quero ser um grande diretor. Eu me dedico a tudo que me interessa. Tudo reverbera no trabalho do ator", diz Márcio. No início eram três esquetes: a comédia dos legumes na TV e mais dois outros gêneros. Márcio, que seria só ator, envolveu-se com a energia do grupo e quis participar da criação também. Dois meses antes da estréia, escreveu a esquete Do Fundão.
Uma das esquetes que tinha tom mais dramático era escrita por Gabriel Leonardelli. Maria Orgulhosa já foi um drama sobre um garoto de programa e religião, bem distante da leveza da versão final. O tema religioso se manteve. Do drama à comédia, foram dois dias de adaptação. A facilidade pra escrever de Gabriel vem da redação publicitária, por formação, e das aventuras por blogues e crônicas. A visão mais sarcástica presente nos seus escritos gerava reações: "ou o povo me achava nojento ou o povo ria". O tema religião o incomoda, por isso foi escolhido como elemento principal da sua primeira experiência com o texto de teatro. "Mesmo sendo uma comédia, não pode ser vazio. Fico frustrado quando não consigo tirar nada do que estou assistindo".
Além de ser autor do texto, Gabriel também assumiu a direção, com a colega Rachel Zílio, que ocupou-se mais com a produção e a orientação de Gabriel na hora do ensaio, já que ele representa a Maria do título. Gabriel Zeni representa o Anjo Gabriel, assistente puxa-saco da Virgem. Muito da construção dos personagens e da história veio de sugestões e improvisos. Como bem disse Márcio, repetido por Gabriel Leonardelli, "50% é texto ensaiado, outros 50% é improviso, é troca de energia com a platéia".
Gabriel exalta-se ao dizer que dirigir e escrever para si mesmo foi um trabalho difícil e um desafio, não que a atuação seja fácil. "Perco o sono, uma semana antes da estréia eu surto , um dia antes viro um demônio", brinca. Quando a avaliação recai também sobre o texto e direção, o vervosismo triplica. "Sempre espero ter essa preocupação e nervosismo. Não quero nunca estar pronto. Tenho muito chão pela frente", ressalta. "Quero trabalhar para crescer, sempre me descobrir. Vou ser um velhinho caquético que diz "eu tenho muito que aprender".
No esquete Maria Orgulhosa, ele mexe com os brios do dogma católico da virgindade da mãe de Jesus. Gabriel procurou mostrar sua opinião de forma engraçada, mas sempre preocupado para que o texto não atacasse a ninguém. "Queria mexer na ferida mas não ofender ninguém. Mas não fiz nada pra agradar. Comédia que faz isso é babaca, é Zorra Total. Nunca fui de agradinho. Quero fazer vocês pensarem", conta Gabriel.
 " (Por Cìntia Hecher)

Críticas e Reviews - Paranoia

Espetáculo "PARANOIA (Sit Down Comedy)"


14/11/2008
Site Queb - Qual é a Boa?
Coluna Ciranda -
http://www.queb.com.br/

"Sangue Novo -


A Cia2 - Grupo de Teatro, dirigido por Márcio Ramos, estreou com tudo no último fim-de-semana. A trupe, que levou ao palco da Casa da Cultura o espetáculo "Paranoia", fez e aconteceu. No melhor estilo, esquetes (rápidas e rasteiras), escritas por Márcio, teve um elenco afinado e disposto a entrar no time dos arteiros da cidade. Tefa Polidoro é um caso à parte, ela entra em cena e arrasa. Destaque para as atrizes Rachel Zílio e Camila Cardoso que, com suas performances estreantes, deram conta do recado e mostraram a que vieram."  (Por Raulino Prezzi)

__________________________________________________________

28/05/2009
Jornal Pioneiro
Coluna Sete Dias - "A Gente Viu!"

"Fragmentados ao meio


Paranoia (Sit Down Comedy), apresentada no fim de semana passado no Teatro Pedro Parenti, começa irreverente. Sentados entre a platéia, como se estivessem num banheiro, os atores aludem a MSNs, nicknames, Orkut e salas de bate-papo.
No palco, o roteiro segue mostrando personagens acossados entre memórias, tentativa de diálogo, algumas escatologias, outras perversões, num bric-à-brac de desabafos e pedidos por socorro. Família, igreja e preconceito são alvos destes solilóquios entremeados por movimentos coletivos. Há boa luz para as personagens prêt-à-porter, que emergem no bom recurso de uniformizar o figurino, com uma ou outra roupa vestida na boca de cena, anunciando o próximo número/tipo. A peça se encerra com uma imagem que remete à involução humana de solidões contemporâneas reais entremeadas por comunidades de amigos virtuais.
Entre o bom começo e o belo fim, os fragmentos fragilizam a narrativa. Louva-se, no entanto, a determinação de Márcio Ramos em colocar suas idéias em cena, assinando texto e direção. A Cia2 se lança no teatro caxiense demonstrando vontade cênica. A dramaturgia da montagem é que se esgarça um pouco no decorrer deste espetáculo de estréia. Mas, sem começar, não há caminho a seguir." (Por Carlinhos Santos)

_____________________________________________________________


12 a 18/06/2010
Jornal O Caxiense
Coluna Artes - Teatro -

"Para rir descaradamente


As luzes focam a platéia. Não só algum elemento cênico diferenciado, um efeito. Elas apontam para como somos, fomos, nos comportamos. Como queremos ser, como evitamos aparecer. Talvez não seja tão filosófico assim. Mas que tem um dedo apontado na direção do umbigo, isso tem. Com autoria e direção de Márcio Ramos, Paranoia tem ele e mais sete atores perambulando em cena. São esquetes, cada uma trazendo alguns dos anseios mais comuns ao ser humano.
A peça, que estreou no final de 2008 - ano em que o pessoal da Cia2 passou ensaiando e se preparando para ela -, terá suas últimas apresentações neste final de semana. Últimas na cidade, pelo menos. Será inscrita em festivais para ultrapassar os limites citadinos. E merece alcançar novos públicos, já que por mais espalhadas que estejam no mundo, as pessoas têm tanto em comum que nem fazem idéia. É uma daquelas peças para se identificar, seja na risada contida, na gargalhada, no choro deslavado. No sentido descarado da palavra. Este é até um bom adjetivo para a montagem como um todo. Sem compromisso com regras, frases feitas, pré-conceitos e sisudez. Como subtítulo, carrega a expressão sit down comedy, idéia de Márcio que é contraponto ao agora tão popular (mas nem sempre competente) stand up comedy. Em Paranoia, todo mundo fica é sentado mesmo.
Mas nem só de comédia se vive. Mesmo que existam momentos hilários, há os instantes reflexivos. A solidão é assunto frequente, sendo o medo dela uma das inspirações. Uma das esquetes é exatamente sobre isso, o que obriga o espectador olhar para si e questionar-se "eu me basto?". Gonzaguinha disse que ninguém é feliz sozinho, nem o pobre nem o rei. Tom Jobim corrobora, em Wave, de maneira mais enfática: "é impossível viver sozinho".
Paranoia, como bem alerta com nome, provoca a discussão interna, amplia o "será?". Situações cotidianas são o que aproximam o pública, que acena que sim com a cabeça em várias das situações, desde conversas em banheiro público, secretária de empresa ao telefone, até durante uma festa. Com piadinhas que vão da delicadeza da cantora Sandy ao pavor que a falta de luz traz aos solitários, o espetáculo se contrói, com atuação marcante de talentosos atores da cidade que se vestem com uma roupa cor de pele , nude mesmo. Para marcar mais ainda aquela história de que, na verdade, somos todos iguais. No fundo, temos o mesmo. (Por Cíntia Hecher)

2011 - O Fauno

No início de 2010 surgiu o convite, através da atriz e diretora Ana Fuchs, para eu (Márcio Ramos) atuar no monólogo chamado "O Fauno". Na ocasião, assim que recebi o texto, enviei um e-mail para Ana, respondendo sobre as minhas impressões sobre o texto:



* "Primeiro, sem duvida nenhuma o personagem Fauno é maravilhoso, ele é debochado, falso, sincero, desfigurado, lindo e feio, é engraçado e dá tanto nojo dele. Nossa!!! É mais do que um presente esse personagem. É um personagem pra vida, pra me alterar como pessoa, como ser humano, como ator, como profissional... E nao to falando isso pq quero fazer esse trabalho, to falando isso pq senti isso.
O texto ele segue uma sequencia gostosa, ele é misterioso, te passa justamente as informações que precisamos saber, é personagem e platéia o tempo todo, o tempo todo, o tempo todo. (...) Nossa...to num turbilhao de pensamentos, sensações...
E esse texto é completamente atual, usa de histórias do passado - da mitologia - pra nos colocarmos na nossa realidade hoje.
Eu considero esse texto, essa história, as sensações e situações que essa peça possa desenvolver completamente pertinentes para nossa realidade hoje. Fazer da arte teatral, a arte do encontro, um momento de diálogo (por mais q só ele fale, a peça é um diálogo o tempo todo - pq ele se transforma, se transformando nas idéias da platéia...isso é uma das coisas mais loucas), e fazer desse dialogo algo significativo. (...) " - Márcio Ramos, 02/01/2010 -

No decorrer de 2010, nós encaminhamos um projeto da peça para o FINANCIARTE - financiamento da Secretaria de Cultura de Caxias do Sul, com o Gabriel Zeni de proponente do projeto. No dia 01/06/2010 os aprovados foram anunciados e "O Fauno" estava lá!



Confesso que somente 06 meses depois caiu a ficha de que eu iria realizar meu primeiro monólogo! Dá um certo nervosismo pensar nisso, mas nem vejo tanto a situação de estar sozinho no palco, vejo a questão do meu potencial, da minha capacidade, do meu fazer teatral. É hora de eu colocar tudo pra fora e fincar o pé no chão dizendo: "Eu sou um ator porra!"...

A diretora da peça, também a escritora do texto, Ana Fuchs mora em Porto Alegre, por isso não conseguimos  nos encontrar várias vezes por semana. Assim a Ana convidou a atriz e diretora Tefa Polidoro para realizar a assistência de direção. Logo no primeiro ensaio, mesmo eu sabendo que o trabalho, tanto da Ana quanto da Tefa serem bastante focados no corporal, eu fui confiante. Huahuahua! Não aguentei nem 20 minutos de preparação física - que vergonha - quase vomitei, fiquei com uma bolha enrome no pé, me sentia uma baleia tentando dançar balé. Eu havia passado todo ano de 2010 trabalhando do lado de trás dos palcos, dando aula de teatro de segunda à sexta, sem cuidar de alimentação, corpo, nada... Resultado: zero de resistência física e muitas gordurinhas no corpo.



Hora para começar do zero!

Cuidar da alimentação, manter uma qualidade de atividades físicas durante a semana, ensaiar, ensaiar e ensaiar... Em alguns encontros com a Tefa, durante as férias, fazíamos a preparação corporal no Parque dos Macaquinhos, ao ar livre. Em outros encontros ficavamos na sala onde ensaiamos realizando uma série de exercícios teatrais para trabalhar com a resistência física, criação de figuras para o Fauno (personagem) e para a peça - coisa que seguiremos fazendo até agosto.

A estréia da peça está marcada para Agosto de 2011. O local ainda não sabemos onde será.
Posso adiantar que essa será uma experiência teatral para quem for assistir. Irão rir, refletir e ainda irão dividir uma ceia com o fauno. 



Conforme iremos ensaiando, iremos colocando aqui novas imagens, resultados dos ensaios e impressões sobre o processo.


Até em breve,

Márcio Ramos

sexta-feira, 11 de março de 2011

2010 - (E)Terno

Em 2010 surgiu a oportunidade da Cia2 apoiar o projeto "(E)Terno", espetáculo solo da atriz Tefa Polidoro, financiado pelo Premio de Incentivo à Montagem Teatral, da Prefeitura de Caxias do Sul. Esse trabalho também seria seu projeto de finalização do curso de graduação no curso de cênicas da UFRGS, com especialização em atuação.

Era o estágio de Atuação II de Tefa Polidoro, que já havia trabalhado com a Cia2 desde o Paranoia, até a recente direção do espetáculo Ali-se. Nesse projeto ela havia me convidado para realizar a direção do espetáculo.

Para o projeto, Tefa desenvolveu um blog relatando cada passo do projeto: http://www.projetoeterno.blogspot.com/ 

O projeto “(E) TERNO” pretende colocar ao público, através do teatro e da dança,num espetáculo solo, imagens e sensações, relacionados aos sentimentos de espera e solidão, com o objetivo de instigar o público a vivenciar todas as angústias, decepções e incertezas de uma mulher que aguarda notícias do marido que viajou. Quando se trata de sua filha recém-nascida, mostra-se uma rocha, mas tratando-se de suas incertezas e saudades, um gelo que derrete.



Sinopse:
O que havia acontecido exatamente? Nada. Naquela noite molhada de chuva e de vento, uma criança que brincava havia acendido o fogo... Naquela noite de poças e lembranças, um simples vento passa... O espetáculo “(E) TERNO” pretende colocar ao público, através do teatro e da dança, num espetáculo solo, imagens e sensações relacionados aos sentimentos de espera e de solidão com o objetivo de instigar o público a vivenciar as angústias, decepções e incertezas de uma mulher que aguarda notícias do marido que viajou.


Colaborar com um projeto tão significativo e pessoal foi uma experiência fortíssima. Tefa, sem dúvida alguma, é a grande idealizadora e criadora desse projeto. Foi um processo de direção completamente novo para mim. Eu tinha nas mãos uma das atrizes mais talentosas com que já tive o orgulho de trabalhar, e ela logo no primeiro ensaio, onde apenas iria me mostrar "alguns meteriais que eu andei pesquisando", me surpreende com um material sólido, forte e extremamente significativo.

Esse não seria um trabalho onde eu me sentiria totalmente diretor, pois estava dividindo o processo criativo com a Luciane Oledzki, coordenadora da Tefa em Porto Alegre e entre a própria Tefa. Então toda decisão era tomada entre a Tefa se dividindo entre o que a Lu propunha e o que eu propunha.

Como o material era muito significativo, para o meu olhar, e numa conversa com a Tefa sobre esse não ser um espetáculo contemporâneo que ninguém entende - eu procurava puxar ele cada vez mais para o "senso comum", não menosprezando o público. Mas sabemos que quando estamos envolvidos com arte e cultura, nossas percepções ficam mais aguçadas, e o publico em geral não é estimulado dessa maneira. Assim eu procurava entrar em acordo coma  Tefa que o material já encontrado estava ótimo, para aquele momento.

Durante um ensaio, lembro da Tefa me mostrar uma cena que ela havia criado, onde ela me remetia a uma cena do filme "Memórias de Uma Gueixa", parecia que ela segurava um lenço vermelho em sua mão, balançava de um lado para o outro, cantarolando uma música de sua infância, relembrando memórias do passado e reverberando em lágrimas em cena. Era lindo! Eu chorei assistindo. Ao acabar, com a maior cara lavada ela me olha e pergunta: "o que tu achou?"... Pra minha surpresa ela nem havia se emocionado, era pura prática e técnica. Até eu era levado pela história contada...

Na estréia de Caxias o clima era de consolidação. Estavamos, em 2010, realizando a terceira estréia de uma peça teatral. Após a peça eu via o público indo embora com os olhos vermelhos, cheios de lágrimas. Pessoas ainda "fungando"... Era teatro se transformando em poesia, se transformando em significados e histórias, se transformando em teatro- de novo.

Na estréia de Poa o clima era totalmente diferente. Cheguei durante um ensaio da Tefa com a coordenadora dela, a Lu. Lemabram da cena que eu descrevi acima? Havia sido brutalmente cortada da peça pela Lu. Ali, naquele território, eu não era mais O Diretor da peça, no máximo eu estava ali para auxiliar a Tefa em tudo que ela precisasse. E foi incrível ver que vivemos em realidades completamente diferentes.

No meio acadêmico, ainda mais um polo como Porto Alegre, onde acreditam serem influentes na arte nacional, alguém que sai de Caxias é apenas mais um colono, do interior. Eu não estava ali pra provar nada a ninguém, estava ali p/ ajudar a Tefa - coisa que um diretor sensível irá fazer - manter a energia positiva de sua atriz. Mas a Tefa era testada a cada momento! Já não bastava toda pressão que passamos durante o Ali-se, toda pressão daquele ser seu trabalho de conclusão da faculdade, a coordenadora queria extrair o melhor da Tefa! E cada interferência da Lu era recheada de conhecimento e técnica, era uma verdadeira aula de direção pra mim. Mas restando quase 1 hora para a estréia, não sei se aquele era o momento oportuno.

Saí de Poa com o coração na mão. Deixei o (E)terno num momento que parecia mais precisar de mim. Mas eu precisava voltar pra Caxias p/ trabalhar. Por sorte, na técnica do teatro lá em Poa a Tefa estava rodeada por "almas iluminadas", amigas e colegas de curso que realmente se importavam com o espetáculo.

Resultado de tudo isso? A nota dela foi A, nessa disciplina!!!!

Abraços,

Márcio Ramos

2010 - ALI-SE ...aqui ou acolá...

Em julho de 2009, Márcio Ramos(eu), Tefa Polidoro e Matheus Brusa - três profissionais da área cultural, com enfase em teatro e dança - resolveram criar um projeto unindo artistas de diferentes áreas, com foco em bailarinos e atores, para criar um novo projeto. Idéia jogada para o Universo, artistas convidados, muitos deles seriam atores da Cia2 - Grupo de Teatro, faltava o principal - sobre o que falar?



Durante um dos ensaios com a Cia2, coloquei para eles a idéia e trabalharmos com profissionais diferentes e que juntos poderíamos sugerir algum material de inspiração. Depois de várias idéias, Aline Marcon menciona "Alice no País das Maravilhas" - todos adoram a idéia. Levamos a idéia para os demais envolvidos e todos apoiam a possibilidade de usarmos essa fabulosa história como inspiração para criarmos o nosso "alice".

Durante trocas de e-mail sobre o projeto, brinquei com a sonoridade da palavra alice, e como iríamos trabalhar numa peça com influencias da arte contemporânea, surgiu "Ali-se" - confesso que na ocasião nem pensei que esse viria a ser o nome da peça, mas o nome "pegou" entre os membros, se tornando assim o nome do projeto e da peça.

Criamos o projeto, com o proponente sendo Vinicius Padilha, inscrito em dois prêmios de financiamento para teatro, sendo recomendado em ambos, mas não sendo aprovado. Não nos demos por vencidos e esperamos outro edital abrir - dessa vez no FINANCIARTE, prêmio de financiamento da Secretaria da Cultura da Prefeitura de Caxias do Sul. Alguns meses após a inscrição (final de 2009), finalmente a palavra APROVADO estava escrito no resultado final.

Combinamos de iniciar a montagem com todos envolvidos no início de 2010, em encontros que ocorriam aos sábados.
Logo na primeira reunião, com um membro ausente, o clima de confusão e a falha na comunicação entre alguns membros era enorme. Drama. Drama. Drama. Foi o pior início de um projeto. Mas estávamos decididos a dar a volta nas "intrigas" e focar no trabalho. Muito se fala em profissionalismo, mas algumas barreiras ficam impossíveis de se delimitar quando se trabalha entre amigos, ainda mais num projeto que teria 3 diretores envolvidos. Assuntos resolvidos, ou quase, damos sequencia aos trabalhos.

Realizamos um trabalho intenso de pesquisa, já que se tratava de um texto extremamente famoso, cheio de referências e teorias sobre o mesmo. Cada membro - cerca de 12 pessoas - coletava material para lermos e discutirmos sobre. Nessa primeira etapa surgiram os principais personagens necessários para a montagem, sendo que "Alice" possui 2 livros: "As Aventuras de Alice no País das Maravilhas" e "Alice Através do Espelho" (ambos de Lewis Carrol). Pesquisamos muito sobre o autor também, sobre as mais interessantes e absurdas interpretações sobre o "pq" dele ter escrito os textos.

Como iriamos trabalhar sem um texto/roteiro pré-estabelecido, apenas as idéias que a história original nos passava, criamos um "amigo secreto" de personagens. Cada membro retirou seu personagem e, em segredo, desenvolveria uma performance, com elementos da arte contemporânea, para apresentá-lo aos demais. Eis que nosso meterial mais incrível começava a ser criado e coletado. Ex.: A Camila Cardoso, que havia retirado o papel da Lagarta, criou uma cena onde ela era uma ex-viciada em cigarro e estava numa abstinência profunda, que só conseguia se controlar comendo muitas balas "sete belos" (a bala é uma carta, fazendo referência ao exército de cartas da história). Acabamos não usando as balas na cena da lagarta, mas as balas se tornaram uma espécie de chave para toda história se desenvolver.

Num segundo momento, em junho, eu criei um roteiro contendo todas informações que teríamos de ter na peça: trilha sonora, vídeos exibidos durante a peça, movimentações, além de idéias para o desenrolar da história. Talvez não fosse tão necessário ter criado o roteiro naquele momento, mas toda criação - pra mim - sempre parte do texto, e dirigir algo que não tinha nem um roteiro estava me matando por dentro. No fim foi positivo ter escrito esse primeiro roteiro (que futuramente receberia outros tratamentos), pois percebemos como tinhamos muitos detalhes para cuidar, criar, desenvolver - além do processo de preparação e criação do elenco, que ocorria desde abril. Percebemos, também, como a idéia estava clara para os diretores do que seria a peça, mas como ela ainda era difícil de visualizar para todo elenco.

Em julho nos deparamos com mais "ruídos na comunicação", desestabilizando mais uma vez todo o projeto - novamente alguns problemas pessoais estavam se tornando problemas profissionais - ou vice e versa... Mais uma vez um projeto que era pra abraçar o lúdico, o imaginário infanto-juvenil, estava cheio de problemas juvenis. Ao tentarmos resolver os problemas, criaram-se mais problemas... Parecia que existia uma "energia negra" envolvendo o Ali-se e eu, pessoalmente, estava dividido entre amizades, trabalhos, sonhos, passado, futuro... O que fazer? Como resolver? Que direção tomar?



Talvez nem fosse eu que tivesse que decidir algo, mas me sentia meio que um "pai" pro projeto todo. Durante um ensaio, quando novamente novos probelmas foram expostos, resolvemos dar ouvidos apenas às soluções e não aos problemas. E automaticamente as coisas se resolveram.
Nessa mesma fase, devido problemas de horários por causa de outros trabalhos, Matheus se retirou do projeto. Ele havia colaborado com muitas idéias, mas o que fazer com elas, uma vez que ele não estava mais na direção?

Tínhamos quatro meses até a estréia da peça, e muito material teria de ser substituído. Tefa e eu nos reunimos num final de tarde e passamos cerca de 6 horas, diretas, jogando todas idéias possíveis para recuperar materiais nossos, porém numa roubagem nova, com a nossa cara - mas que não perdesse as estruturas que haviam sido propostas pelo projeto inicial. E devo dizer que conseguimos!!!



Era o segundo dia de apresentação da peça "Ao Quadrado", reunimos todo elenco e contamos como seria esse novo "Ali-se" - todos se apaixonaram pela idéia. Estavamos reestruturando um projeto que, devido todos problemas no passado, havia se tornado um "fardo", como relatou um próprio membro do elenco.

Tefa e eu resolvemos limpar a energia do Ali-se e recuperar o prazer e a diversão do teatro. Ficamos quase que um mês todo trazendo a animação e o lúdico para os ensaios, para que - pouco a pouco - os atores fossem se apaixonando novamente pelo projeto. Apesar de estarmos quase que com a corda no pescoço, devido a data de estréia estar próxima, nós decidimos dar o máximo de atenção nessa nova "primeira fase", pois seria ela que faria com que o elenco realmente se envolvesse de tal forma pela peça, a ponto de defenderem ela com unhas e dentes no palco. No elenco estavam: Beta Padilha, Camila Cardoso, Elvis Barbieri, Jéssica Pistorello, Gabriel Leonardelli, Gabriel Zeni, Rachel Zílio e Vinícius Padilha - além de eu (Márcio Ramos) e Tefa Polidoro na direção.


Fase concluída com sucesso, começou a fase do desespero. Tínhamos que criar o figurino, trilha sonora e vídeos para dar tempo de tudo ser confeccionado. Na criação e confecção do figurino chamamos a Eliana Zardo, para a criação da trilha sonora convidamos a Franciele Duarte e Tita Sachett, para a produção e criação do video convidamos a Generall Vídeo Produtora (parceiros da Cia2 desde o Paranoia), além do grande Juarez Barazetti na iluminação. Além da Rachel Zílio na produção do projeto, Gabriel Leonardelli na criação do material gráfico e Raquel Alquati na contra-regragem.

Com todo aparato técnico sendo desenvolvido, começamos a marcar ensaios extras para tentar recuperar os ensaios perdidos. Ainda com base naquele primeiro roteiro que eu havia escrito, eu e a Tefa reformulamos ele, acrescentamos e substituímos coisas, mantendo a estrutura dele. Com isso, passamos a trabalhar as cenas da peça. Os ensaios eram divididos em aquecimento corporal - proposto pelos diretores, aquecimento vocal - proposto pela Beta Padilha (que está cursando Fonoaudiologia). Logo após passavamos uma idéia geral do que seria a cena trabalhada, divididos em dois grupos o elenco deveria criar a melhor idéia para aquela cena. As cenas eram apresentadas, comentadas e trabalhadas. Depois, passávamos a unir o melhor das duas criações e encontrávamos uma possível construção inicial para a cena em questão.

Houveram cenas criadas assim, enquanto outras partiram completemente de idéias pré-concebidas pela direção, onde passávamos o que seria a movimentação da cena e estudávamos - junto com o elenco - a melhor maneira de realizá-la.

Nessa fase, a Tefa iniciou a estruturação do texto da peça. Com base nas cenas e improvisações criadas pelo grupo, ela unia todas idéias e colocava tudo no papel, criando diálogos lindos (Tefa, deixa eu te elogiar!). Nesse momento a Tefa sugeriu acrescentarmos o "...aqui e acolá..." ao título da peça, fechando nosso processo criativo.



O último mês foi de um grande e arduo trabalho para todos envolvidos. Começamos a ensaiar com figurino, acessórios, trilha sonora, projeções...Tudo!!! Era informação demais, mas estavamos ansiosos para ver essa peça que tanto havia se transformado, em um resultado artístico que todos nós nos orgulhávamos. Nos ensaios gerais ainda sentíamos a necessidade de criar detalhes em algumas cenas, limpar outras, mas decidimos ser momento apenas para a repetição do material que já tínhamos e pronto. Aquele seria o material apresentado.

Realizamos a estréia da peça para alunos de escolas municipais e estadual, entre elas estavam alunos meus das escolas municipais *Professora Marianinha de Queiroz, *Ramiro Pigozzi e *Dolaimes Stedile Angeli, outra escola municipal onde leciona a mãe do Gabriel Zeni, e a escola estadual Cristóvão, onde minha mãe leciona. Mais uma vez estávamos criando mágica e nem imaginávamos...

Criamos toda a peça pensando no nosso público álvo, as crianças/adolescentes, porém nunca imaginávamos que eles abraçariam com tamanha força o espetáculo. A cada pergunta indagada por algum personagem no palco, as crianças respondiam com tamanha rapidez e vontade que dava pra sentir eles estabelecendo todas as conexões com o material da peça. As vezes eles ficavam em um silêncio tão grande que pensava, eu e Tefa - na cabine de som e luz: "acho q eles estão achando cansativa a peça!".... Mas era aparecer outra oportunidade para eles participarem ativamente durante a peça que eles, novamente, demonstravam estar completamente dentro da peça. Os momentos de silêncio era a atenção total deles dedicada àquele momento!



Abraços a todos,

Márcio Ramos






 
  

2010 - Ao Quadrado

Após passarmos o ano de 2009 apresentando a peça "Paranoia (Sit Down Comedy)" em eventos e teatros de Caxias do Sul, estava na hora de novas experiências para o grupo...



No final de 2009 inscrevemos um projeto no FINANCIARTE, da Secretaria da Cultura de Caxias do Sul, para montar uma peça baseada na história "Alice no País das Maravilhas" (que futuramente se chamaria "Ali-se ...aqui ou acolá..." - mas isso é história para outro post). Com esse projeto aprovado, senti a pressão de ter um projeto financiado pela prefeitura municipal com a Cia2 envolvida, sendo que eramos um grupo relativamente novo. Com isso, tive a idéia de criar algo para "instigar" os membros do grupo a evoluirem seu processo de aprendizagem no teatro - eis que surgiu o projeto "Novos Diretores"!



O projeto "Novos Diretores" consistia em membros do grupo dirigirem esquetes com outros membros do grupo no elenco, tento que criarem todos os passos de uma montagem. Em dezembro de 2009 reuni todo elenco o joguei a idéia... silêncio... "-Mas vamos ter que dirigir sozinhos?", alguns indagavam. Entre conversas, idéias, sugestões, decidimos que seriam 3 pares de diretores para 3 esquetes. Todos teriam até o início de 2010 para montar um mini-projeto de apresentação (texto, elenco, concepção, fotos de inspiração, justificativas) para mostrarem ao resto do grupo o que eles iriam dirigir. As duplas eram: Gabriel Leonardelli e Rachel Zílio, Camila Cardoso e Vinicius Padilha e Gabriel Zeni e Rachel Zílio. Ainda na primeira reunião, os diretores (sem saberem o que iriam dirigir) acharam interessante escolherem o elenco de suas cenas, pois assim facilitaria na escolha de texto e idéias.

Como esse era um processo de desenvolvimento para eles crescerem como artistas, eu iria atuar apenas como ator em uma das cenas (a dirigida por Camila e Vini), iria fazer ajustes numa possível "direção geral", caso fosse necessário.

No início de 2010 nos reunimos para conhecermos quais seriam as 3 esquetes, e sobre o que elas falariam.
Camila Cardoso e Vinicius Padilha montariam a cena "LeguMaravilha", tendo no elenco a Rachel Zílio, Aline Marcon e eu.
Gabriel Leonardelli e Rachel Zílio montariam um texto dramático escrito pelo Leonardelli, tendo no elenco o Gabriel Zeni, Bruno Agostini e o próprio Leonardelli.
Rachel Zílio e Gabriel Zeni montaria um texto antigo, tendo no elenco o Vini padilha e a Camila Cardoso.

Iniciamos os ensaios em março de 2010, nos encontrando sempre nas segundas-feiras de noite. Cada diretor, se achasse necessário, iria marcar ensaios extras. Logo no início do ano marquei a data de estréia da peça (final de julho), o que ajudou a manter um compromisso sério com o projeto.

Durante o processo, alguns trocaram de textos e todos acharam interessante ser uma peça só com esquetes de comédia. Nisso, o Leonardelli escreveu um novo texto chamado "Maria Orgulhosa", mantendo o mesmo elenco, e a Rachel Zílio escreveu outro texto, chamado "Uma Vez Por Mês", também mantendo o elenco.

A decisão de montarmos uma peça que fosse calcada na comédia foi nossa melhor decisão, e foi uma decisão em conjunto, quase que orgânica, natural.
Durante os ensaios eu via todo o povo focado, interessado, pesquisando, adorando a criação de suas esquetes - que aquilo tudo me contagiou e resolvi escrever uma esquete para a peça, também.

Eis que surge a quarta esquete da peça, chamada de "Do Fundão", tendo no elenco a Aline Marcon, Rachel Zílio, Camila Cardoso, Vinícius Padilha e eu. Convidei os Gabriel´s - Zeni e Leonardelli - para dirigirem comigo a cena e todos aceitaram.

Nisso a Cia2 tinha 04 esquetes em sua nova peça, e cada núcleo se encontrava em horários diferentes para seus ensaios. Durante alguns meses perdemos aquela "energia de grupo" que encontramos durante o "Paranoia", e damos lugar para quatro mini-grupos com energias bem diferentes. Daí a idéia para o nome da peça "Ao  Quadrado", pois durante o período a Cia2 se transformou em 4. O nome da peça era só uma brincadeira, assim como toda a peça seria. Na sonoplastia tinhamos o Elvis Barbieri e a iluminação o Juarez Barazzeti.



Desde o release, nome da peça, escolha de material gráfico, tudo era decisão coletiva. Quem trabalha, ou já trabalhou, com um grupo grande de pessoas - todas tendo voz ativa - sabe como isso é delicado. Mas todos se respeitaram muito, sabiam de seus limites dentro de seu espaço criativo e conseguimos criar um ambiente divertido e controlado. Claro que, assim como durante a montagem do Paranoia, nem tudo eram flores o tempo todo... Existiam algumas tensões, mas todos eram resolvidas visando o melhor do grupo e da peça.

Como eu já havia passado pela experiência de direção antes, muitas vezes apareciam situações que eu automaticamente queria resolver ou achava que deveria ajudar. Mas por outro lado eu criei todo aquele projeto para eles se virarem - literalmente. Então passei a cuidar da cena que eu dirigia, procurava estar o máximo disponível para meus diretores e comentando as outras cenas apenas quando solicitado.

*As experiências pessoais dos outros diretores serão comentadas pelos mesmos, em futuros posts.

Perto da estréia marcamos uma "pré-estréia" para "amigos only", onde todos teriam de apresentar suas cenas por completo, com trilha sonora / figurinos / maquiagem, tudo pronto. Filmamos, para que assistíssemos antes da estréia, assim teríamos tempo para algumas alterações. A nossa surpresa foi que nossos amigos riram muito!!! Comentaram até que chegava a doer a mandibula, de tanto rir. Estávamos tão acostumados com o material da peça, que nem achavamos mais nada engraçado, e durante esse ensaio-geral as risadas nos contagiaram e nos alimentaram de tal forma que não queriamos mais ensaiar a peça sem público, havíamos viciado no resultado imediato do público.

No dia da estréia lembro que tudo que poderia dar errado, durante a montagem de palco e ensaio, deu errado! Era cenário que não funcionava, ator que não chegava, diretor passando mal de nervosismo, eu achando que mais ninguém iria rir da peça - que tudo aquilo não passava de um grande equívoco. Nos momentos finais eu tendo a questionar muito meu trabalho, e como eu ainda me via como responsável de todo elenco, afinal fui eu que coloquei eles naquela situação, achava que tudo estava fraco.



Conversamos e decidomos não esperar mais pelas risadas, elas não poderiam ser nosso objetivo, e sim nosso resultado. Nas ultimas horas que antecipavam a estréia decidimos ir com tudo: exagerar, alimentar o olhar do colega de cena com nosso próprio olhar, ir com tudo mesmo. E se tivessemos silêncio como resultado, mais nós iriamos nos jogar de cabeça e aproveitar aquele momento de apresentação.

Como eu estava errado!!!! Não havia nada de errado com a peça...pelo contrário, após 10 anos fazendo teatro aquela foi a estréia que eu mais me senti em casa como ator. O jogo com a platéia foi estabelecido com muita facilidade, atores/diretores se divertiam e improvisavam em suas cenas, com direito a aplausos em cena aberta. A energia que se criou no teatro aquele dia foi algo incrível!!! Delicioso!!!

Toda a peça tem uma estética bem simples, com influencias bregas, com o foco no texto(piada) X ator(jogo) X platéia(foco) - a velha e básica triangulação. Ainda encontro pessoas que comentam que essa foi a melhor peça que eles já assistiram, mas sabem pq? Pq pensamos muito neles, durante o processo. Iriamos criar um momento de puro entretenimento para o público, o objetivo era divertir quem fosse ver a peça - e essa energia, sem dúvidas, ultrapassou as paredes do teatro naquele dia.


Abraços a todos,

Márcio Ramos