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Diário online do ator Márcio Ramos - relatos, pensamentos, agenda, críticas...

quarta-feira, 6 de julho de 2011

As Aves

Paradas. Perdendo o sentido. Sendo o que elas não são. Não usando tudo que lhes faz, elas.
Voando. Ganhando altitude. Pertencendo, sendo.
Viva, em transição.
Mas esse frio me congela, faz criar raízes em meus membros inferiores, onde, em qualquer lugar que eu encoste, vira meu lugar. Eu descanso. Eu desmorono.
Ali, parado, imóvel, o vento sopra.
Me sinto uma árvore seca, sem folhas para dançar com o ar em movimento.
Ali, parado, imóvel, chove e choro.

Minhas lágrimas alimentam o solo seco que me prende neste eco de sensações.
Minhas lágrimas alimentam o solo seco que me prende neste seco de emoções.
Minhas lágrimas alimentam o solo oco que me prende neste solo seco.
Minhas lágrimas secam neste solo seco, oco de vida.

Faz tempo que não vou ao céu. Que não voo ao céu.
Faz tempo que não rezo.
Faz tempo que não ouço aves.
Faz tempo que não rezo "Aves...".
Faz tempo que não sou uma ave.

Espero o tempo decidir uma nova estação amigável, onde pessoas não esperarão meu olhar.
Onde criaturas surgirão dos quatro céus, atrás das quatro luas e do sol e seu amante, o solo.
Aqui já estarei embriagado pelo medo, e rimarei o amante do sol com a sola de meus pés, que há anos não vejo. Estão enterrados neste solo seco, velho.

Há anos não me sinto virgem.
Há anos não me vejo com um olhar puro.
Há anos não sei mais quem sou. Só sou. Só faço. Só repito.
Repito gestos que já executei. Imito coisas que eu já fiz. Tento me superar.
O eu de antes era mais puro, mais verdadeiro.
Já fui virgem em minha essência.
Hoje sou um olho comum, cheio de conservantes.

Mas aqui, onde eu já faço parte dessa imagem cinzenta, cheia de ilusões, onde as ilusões são as coisas mais reais que existem, sei que voarei.
Sei que voltarei a ser pássaro.
Sei que retornarei ao princípio de tudo.
Não me preocupo se retornarei como um ovo ou como uma galinha.
Existem mentes mais superiores que se preocuparão com isso, confio nelas.
Só sei que hoje, o que sei já não basta.
Só sei que um dia, perto, voarei.
Nesse dia eu irei olhar para baixo e encontrar meus pés presos na terra seca.
Nesse dia eu retornarei a terra seca para, sozinho, com meu bico, cutucar a terra e cavar meus pés dessa escuridão.
Pés que já não serão mais meus.
Mas o Mundo dá voltas.
Nesse dia em que poderei voar, não voarei.
http://www.4shared.com/audio/fqFNbac7/Kingdom_Hearts_-_Birth_By_Slee.htm
 (Texto: Márcio Ramos)

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