Caxias do Sul - Rio Grande do Sul - Brasil

Diário online do ator Márcio Ramos - relatos, pensamentos, agenda, críticas...

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Entre o Paraíso ou Tártaro...

Neste final de semana realizei duas apresentações de O Fauno...e minha cabeça está cheia de sensações!!!
Comecei a semana apresentando o (E)Terno com a Tefa, lá na Casa da Cultura - devo deixar registrado como é bom apresentar num local onde qualquer artista é respeitado - seguindo de uma apresentação do In Heaven na sexta, pra chegar no sábado e domingo finalizando com O Fauno.

Eu sabia que seria uma semana intensa, cheia de altos e baixos, mas nunca achei que eu iria experimentar sensações tão opostas assim.
Sábado, durante a apresentação do Fauno, tive uma surpresa que foi o público que não parava de entrar, num limite de 40 pessoas por apresentações, conseguimos aumentar para 50 lugares, porém resultando num total de 70 pessoas esmagadinhas para aproveitarem a peça. Tinha gente sentada em todos os cantinhos do espaço, até algumas pessoas de pé, na parte de trás. A responsabilidade já era grande e só aumentou. O peso de estar sozinho em cena e controlar tudo que é resultado do trabalho, está pesando cada vez mais. Engraçado que algumas coisas ficam mais práticas, domino mais...Mas com esse domínio, percebo novos lugares e espaços para dominar, brincar, jogar, transmitir... O trabalho cresce e eu me sinto, por vezes, correndo atrás dele.
Por sorte, no sábado, descobri uma energia diferente. No início da peça eu não conseguia dominar o jogo, estava tudo lento, calmo... Em determinado momento resolvi assumir essa energia e brincar com ela. Deixei de buscar pelas energias que eu já havia descoberto em outras apresentações. Deixei o "novo" me guiar. E foi a melhor coisa que eu poderia ter feito. Descobri uma ligação e conexão com a platéia que foi muito mais profunda... Tudo era delineado por uma atmosfera viva, pulsante, o tempo todo! Sintia que aos poucos ia transformando as pessoas, os olhares, os pensamentos e, muito mais do que os outros, eu ia me transformando. Ri, comi, cuspi, gozei, chorei, caí, pulei, olhei, engasguei, toquei, brinquei, parei, dancei... Tudo seguia numa sequência sem preocupação... Só com vida e troca.
Acabei a peça, fiquei de joelhos no chão atrás da cortina preta e respirei fundo. Eu estava vazio e cheio.
Foi mágico pra mim.

No domingo eu sabia que não deveria esperar pela mesma sensação dominadora que havia descoberto no sábado, que talvez aquela intensidade não fosse se repetir novamente. Mas eu sou humano, tenho ego, provei algo maravilhoso e queria aquilo novamente... E assim eu comecei com os pés tortos, no domingo.

Separo o trabalho do Fauno em três partes:
*O corpo/voz do personagem que tomam conta do meu corpo.
*O texto da peça e como posso jogar com ele.
*O contato com o público, onde o jogo principal se estabelece - e aqui o trabalho não é somente meu.

Por vezes eu consigo dominar 1 ou 2 elementos do trabalho, dominar ou provar os três (como aconteceu no sábado pra mim) é uma excessão. No domingo senti que eu consegui trabalhar o personagem e o texto... só. E meu exercício, do início ao fim da peça, foi conseguir algum jogo com o público.

Aqui, eis algo delicado: o Fauno não é tão querido, como as pessoas esperam. Inclusive ele é simpático até demais, por receio meu de intimidar o espectador. E isso é algo que tenho que trabalhar em mim, não temer o olhar que desaprova a atitude grotesca, por vezes ríspida, do Fauno. Ele cospe, mas no momento seguinte ele acaricia. Ele debocha, mas suspira no final. Essas nuances são gigantescas e ter consciência delas no momento do jogo ao vivo é algo que só conseguirei ter mais noção daqui umas 20 apresentações.
A peça é a pura definição de uma "arte efêmera" - NUNCA tive uma apresentação semelhante à outra.
As energias de cada cena são definidas e delineadas, mas elas só ganham vida quando o olhar do outro sinaliza algum processo de ligação com aquilo que é proposto na encenação.

E quando o jogo com a platéia não é sólido, não tem muito retorno, quando as pessoas só estão ali pra assistir - devo fazer o que?
*Jogar sozinho?
*Trabalhar e buscar alternativas diferentes pra estabelecer algum contato/conexão?

Quando falo que o jogo não é recíproco, não estou questionando a capacidade de percepção e ligação da platéia com o material. Não é isso. Num campo emocional ou mental o contato provavelmente tenha sido estabelecido e com muita força.
Mas existe toda aquela parcela externa, onde o interno transborda e encontra reações físicas, nas mais variadas formas - mas em virtude do momento, da cena.

Domingo, por exemplo, enquanto o público entrava, tiveram pessoas que empurravam o Fauno para poderem sentar onde queriam, pessoas que falavam com ele como se ele fosse um contra-regra do espaço, teve um cara inclusive que ficou falando em inglês com ele, com direito a umas 5 perguntas em inglês, uma atrás da outra. Ali, senti que o ambiente construído pra peça, o clima, o som, os fios, a fumaça, o Fauno parado na frente deles não era nada pra eles... que seria função minha transformar tudo novamente.

Foi difícil. Foi diferente. Foi a apresentação mais delicada que fiz até hoje - já apresentei 08 vezes essa peça, o que é pouco para se construir um material com vivência.
Tentei. Entreguei tudo o que eu tinha - e é triste saber que tudo o que tu tem não basta ainda. Ainda!
Claro que tiveram momentos fortes, bons, engraçados. Tive o prazer de ter uma menininha de uns 06 anos assistindo a peça - e ela foi suuuper sensível, aberta, participou, pediu comida, agradeceu, era um olhar curioso - que podia não estar entendendo a complexidade do material, mas estava viva naquele momento, comigo. E esse foi um presentão!!!

Caso alguém que tenha assistido no domingo, dia 17/06, esteja lendo - não se sinta desvalorizado - muito pelo contrário. Eu quero é me qualificar para poder trabalhar com todo tipo de público e energia - esse é o meu trabalho. E as percepções de um ator dentro de um espetáculo são completamente diferentes (na maioria das vezes) de quem está de fora assistindo. E como eu sou exagerado, tudo toma proporções dramáticas pra mim. rs

Mas eu gostei de vivenciar a peça no seu Paraíso e no seu Tártaro. E talvez esse seja o caminho - o 08 ou 80 - nunca estacionando no Limbo, por cansaço ou desistência.

...Aprendendo...


quinta-feira, 7 de junho de 2012

IN HEAVEN - trecho da peça

Eis um pequeno trecho do espetáculo teatral IN HEAVEN, que faço parte do elenco.
Para mais vídeos dessa peça e de outras que participei, clique em "VÍDEOS" na lateral direita do blog.

terça-feira, 5 de junho de 2012

2ª MOSTRA TEATRO DAQUI

Semana que vem será uma semana interessante e movimentada...
Terça-feira, dia 12/06, iniciará a 2ª Mostra Teatro Daqui, realizada pela Unidade de Teatro da Secretaria da Cultura de Caxias do Sul, juntamente com os artístas e grupos de teatro que tiveram seus projetos aprovados pelo Financiarte, LIC Municipal ou o Prêmio de Montagem Teatral.
Estarei me apresentando com o (E)Terno, In Heaven e O Fauno.
Abaixo segue o cartaz da Mostra (clique para ampliar):