Caxias do Sul - Rio Grande do Sul - Brasil

Diário online do ator Márcio Ramos - relatos, pensamentos, agenda, críticas...
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domingo, 18 de março de 2012

Ato I - Humildade

Esse final de semana eu tive o prazer de retomar meu "fazer teatral" (se bem que cada trabalho pequeno em relação ao teatro conta tanto qto estar no palco, então não posso dizer que estava parado para retomar algo), mas realizei uma mega maratona teatral.
Em questão de três semanas eu aprendi uma peça nova, uma personagem (cheio de facetas múltiplas), com movimentos, sensações, textos, etc... Além de dividir com o público o que eu e meu colega de cena - Beto Ribeiro - tanto ensaiamos.
A peça se chama In Heaven, a direção é da Jezebel de Carli e a assistência de direção da Tatiana Vinhais.
Tudo foi uma loucura, que agora...depois que tudo passou...começo a me dar conta.

Estava tentando resumir numa palavra toda essa experiência, e encontrei a palavra humildade.
Pode parecer contraditório, ou no mínimo estranho, que eu relacione humildade com algo que na sua compreensão mais básica está relacionada com o aparecer, a exposição. Pois eu garanto - teatro e humildade são unha e carne. E para iniciar o pensamento, vou repetir uma frase da minha colega/irmã/amiga Tefa Polidoro: "Nós não somos importantes. Nós não somos nada. Se tem algo que se torna importante nisso tudo é a arte que fazemos, somente. Ela, sim, pode ser algo mais!".

Eis que estou sentado na minha cama, com os pés doendo, as pernas com mais de 13 hematomas (sim, me dei ao trabalho de contar) e extremamente feliz!!! Feliz, pois faço algo que eu amo. Feliz, pois me entreguei sem medo - e talvez com pouca experiência e técnica, do contrário não estaria cheio de roxos pelo corpo. Mas esses meus hematomas são meus. Mostram minha vontade de aprender, de arriscar, de fazer - em prol de algo maior que eu.

Constantemente, após ensaios ou apresentações, eu me sentia como uma "peça" dentro da peça (teatral). Por vezes me chateava, pois nem sempre eu ouvia o que eu queria ouvir, nem sempre sentia o que queria sentir e nem sempre fazia o que eu queria fazer... Mas minha função é essa. Meu trabalho é pegar tudo isso, dar algum jeito de tornar isso tudo MEU, transcendendo minhas motivações individuais, e me entregando para o todo. A luz, o foco, a sombra, o reflexo, o som, a música, a trilha, o efeito, a projeção, a imagem, a sensação, a água, o tecido, o papel, o texto, o verbo, o movimento, o suor, a dor, a ação, a reação, o erro, o improviso, o medo, a vontade e eu - tudo se torna um. Uma peça. Uma obra. Um conjunto. Todos com o mesmo peso e importância.

Viver nesse "mundo" faz mais sentido pra mim. Por isso me deixa feliz.
E quando conseguimos ultrapassar a barreira do medo e da auto-afirmação e auto-defesa (que constantemente eu, como ator, sinto) encontro do outro lado uma sensação de trabalho realizado.
Dediquei, com vigor, cada segundo em que estive em cena para oferecer um momento cheio de vida e de verdade, dentro de algo que não é real. Ou é? Pra mim foi... Espero que para quem estava do lado de lá do linóleo branco também tenha sido real, nossa brincadeira de faz de conta.

E melhor ainda é acabar tudo isso, ter essa sensação e lembrar que meu Mundo real me espera. Que tenho que trocar de figurino, arrumar o cenário, desmontar tudo e ainda fica de joelhos, esfregando com uma esponja de lavar louça o chão branco da peça. Acordei pra realidade. A batalha continua. Eu não sou mais do que ninguém. Senti no corpo que quem esfrega um chão passa tanta dificuldade quanto quem faz teatro. Eu ainda recebi aplausos do final do meu trabalho. A senhora que estava limpando o chão não.
Por que não?
Ou, se ela desempenha bem seu trabalho e ninguém aplaude depois, pq eu tenho que receber aplausos por simplismente desempenhar meu trabalho?
Se bem que os aplausos não são o centro ou o foco do meu trabalho...  É um momento legal, não vou mentir. Mas eu vejo muito mais como sendo o momento em que todos nós que estavamos ali, interpretando, trabalhando ou assisntindo - nos unimos para uma ultima troca de energia.

Pensando, pensando, pensando...

Boa noite a todos...

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Catarse TOTAL!

Nessas últimas semanas tenho tido muito medo da minha morte.
A sensação de que algo está chegando ao fim, que algo se aproxima é muito forte.
Medo de não ver minha família, de não finalizar meus projetos, de não alcançar meus objetivos, de não aprender coisas novas... Medo de não viver mais aqui.

Comecei a estranhar, pois nunca fui de questionar tanto assim a morte, ainda mais a minha.
Intensifiquei as orações, mas continuava com a forte sensação de que algo ruim iria acontecer.
Piorou qdo fui viajar p/ Goiania, me despedir das pessoas de casa, deixar minhas coisas pra trás, ficar dias longe da minha gatinha Sookie pela primeira vez estava me roendo por dentro.

Mas tipo, roendo mesmo.
Chorei tanto dentro do ônibus.
Chorei. Chorei. Chorei. Me senti criança de novo, com medo das coisas que eu não entendia, desses sentimentos que apareciam e eu não compreendia.

Daí passou.
Na volta, conversando com minha mãe e contando essas coisas pra ela, ela me questiona:
"-E tu não sabe pq está sentindo tudo isso?"
Eu respondo com um óbvio "não!!!", e ela me sai com a explicação mais óbvia ainda.
"Tu tá lidando com esse assunto de morte desde o início do ano com o Fauno, em alguma hora esse assunto iria mexer contigo."

Faltou aquele barulho de moeda caído, pq foi "batata", como diria Nelson Rodrigues.
Daí comecei a perceber que é a primeira vez que uma peça mexeu tanto assim comigo. E claro, o fato da estreia estar se aproximando, os medos tbm começam a aflorar.
Não acredito que quem for assistir a peça sentirá o mesmo que eu, afinal eu estou em processo de construção desse personagem e dessa peça por mais de 8 meses, sempre dentro do mesmo clima, dos mesmos pensamentos e dizeres que contém o texto da peça. Dou vida para um personagem e vejo ele acabando, pouco a pouco...
É muito louco!
Quem assistir terá somente a visão de fora, e suas impressões e percepções sobre aquilo. Sim, tem momentos fortes, tanto de sensações qto de questionamentos diretos p/ o público sobre escolhas de vida mesmo. Questionamentos que só fazemos qdo estamos diante de dificuldades, e a morte precoce é uma delas.
Mas foi bom sentir tudo aquilo, sinto que algo foi trabalho internamente.
Agora consegui substituir o medo da morte pela ansiedade e desejo de trabalho, p/ que a peça fiquei cada vez melhor.

Pela primeira vez entrei no meu próprio "labirinto interno" e graças a minha mãe eu saí dele!

"Uhanoooo!!! Nova Bassano!!!"

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Se a montanha não vai até Maomé...

Chegou a hora de colocar um ponto final numa história que, durante um determinado tempo foi muito bonita.
É engraçado como as coisas mudam, as pessoas mudam, o trabalho muda... E daí aquilo que um dia fez sentido e era ótimo, hoje não é mais. Para alguns pode ser ainda, mas esse é um blog com pensamentos meus, então não vou ficar colocando a versão dos outros.
Talvez só eu tenha mudado - espero que não, ainda acredito na evolução.
Mas o mais chato de tudo é quando amizades ficam desgastadas. Quando confiamos o nosso melhor para algumas pessoas e, devido essas mudanças inevitáveis, essas mesmas pessoas passam a não nos olhar mais.
Bem, eu não chamaria isso de evolução... Mas cada um sabe o que é melhor p/ si. Cada um tem seu tempo.

Sabe aquela história de que podemos receber mil elogios, mas se UMA pessoa aparece e te critica negativamente, esquecemos aqueles mil elogios e passamos a considerar apenas uma única crítica? Já passaram por isso, acredito.

Pois bem, e o que acontece quando temos umas mil lembranças maravilhosas, mas daí aparecem meia dúzia de desentendimentos, fofoquinhas, picuinhas, infantilidades? Será que elas destruirão essas mil lembranças maravilhosas?

Acho que não. Mas tbm sei que não dá p/ ficar vivendo de memória... Quero olhar pra frente, mais do que nunca.

Conheci muita gente legal. Renovei e fortaleci amizades já existentes. Aprendi MUITO!!!
Hora de dizer tchau - como diriam os Teletubies!

Hoje eu me desliguei por completo da Cia2 - Grupo de Teatro. Não queria me desligar de algumas pessoas ali dentro...são muito importantes p/ mim. Mas p/ isso existem os cafés de fim de tarde, as reuniões na casa de outros, eventuais festinhas... O trabalho segue num caminho diferente. O meu, pelo menos.

Saio por vontade própria, não por discussão ou coisa parecida.
Saio por diferenças de trabalho, de tratamento a arte, ao teatro, ao que temos a aprender, a pesquisar, a desenvolver. Não quero fazer teatro de final de semana.
O meu maior estímulo, dentro do teatro, foi sempre aprender coisas novas, descobrir possibilidades incríveis... Mas tudo isso dentro de uma estética, de um modo, de uma linguagem. E dentro de cada uma, descobrir suas váááárias particularidades.
Quero voltar a ser aluno, a ouvir - e com respeito (mesmo que o que eu ouça seja contra meus conhecimentos - mas graças a Deus sei me colocar no meu lugar).

Desejo boa sorte para os que ficam naquela casa.
Eu, neste exato momento, oficializo minha vida artística de cigano!!!
Boa sorte para mim!!! hehehehe...

domingo, 1 de maio de 2011

Pq as pessoas vão ao teatro?

Pq as pessoas vão ao teatro: P/ ver quem elas conhecem ou pq curtem arte, cultura e suas linguagens?

Não acho que exista uma resposta correta, nem deveria existir. Mas é muito importante parar para questionar algumas coisas... Essa é a intenção desse post.

É muito bom ver amigos, parentes, conhecidos nos apoiando, dando força e realmente gostando do que fazemos. Podem ter começado a ir ao teatro pq nos conheciam, mas acredito que se apaixonaram pelo teatro no meio do caminho... Essa é a mágica da coisa!

Mas se fosse p/ apresentarmos só p/ eles, não alugariamos um teatro de 400 lugares!

QUEREMOS MAIS PÚBLICO!!!

"Ah! Eles não vão pq a peça é séria, dramática. O povão gosta é de rir!!!"
RIR PRA QUE??? Já não basta esse Mundo que já é uma piada por si só, querem continuar rindo???
VÃO ASSISTIR ALGO DENSO TBM!!! Pra se reconhecerem, reconhecerem seus semelhantes e quebrarem com esse ciclo vicioso da preguiça.

Existe uma cidade com uma FORTE estruturação política de apoio às artes. MARAVILHA!!! Vamos aproveitar isso.
Existe uma cidade com uma FORTE produção teatral. MARAVILHA!!! Vamos aproveitar isso.
Existe uma cidade com  ACESSO à formação na arte/curltura. MARAVILHA!!! Vamos aproveitar isso.

Existe uma cidade onde o PÚBLICO se esconde. MARAv...ops! Vamos rever isso.

Escrevo isso, inclusive, para pedir ajuda de quem está lendo. 
Fica difícil apontar o dedo e dizer: "o problema está ali!", se do meu lado, na minha família, no meu circulo de amigos, as pessoas só querem ir ao teatro quando eu estou em cena. Não interessa se eu convidei p/ ver a peça pq é de um amigo, se convidei pq trabalho nos bastidores da peça, se convidei pq dirigi ou escrevi a peça... A maioria das pessoas vão apenas pq um conhecido se encontra no palco (é o que parece no momento, posso estar errado... aliás, adoraria estar errado!).

Teatro é uma coisa tão linda e pura. Reune as pessoas, aproxima o ser humano, existe uma grande troca de energia e sentimentos, aguçamos nossos sentidos, aprendemos a interpretar, questionar, críticar...  A SENTIR! Desenvolvemos um ser humano pensante e atuante.

Já ouvi tantas vezes que teatro é uma arte morta. Teatro não dá dinheiro. Teatro é pra quem quer passar o tempo. "Quer trabalhar com arte/cultura? Tem que ficar famoso!".

Novamente caímos naquela questão: se tem que ficar famoso, tem que ficar conhecido! Então é realmente por isso que as pessoas vão ao teatro: p/ ver pessoas conhecidas?

Que pena... Acho tão superficial... Essa vida é tão curta e dá p/ ir tão fundo nas coisas, questões, sensações...

TUDO É UMA ETERNA TROCA DE FAVORES!

Vou começar a fazer teatro com máscaras, assim não preciso forçar um sorriso como mtos andam fazendo...

(Pensamentos, desabafos e idiotices de Márcio Ramos)

terça-feira, 12 de abril de 2011

Ser ou não ser...

Era uma vez um menino que sonhava alto, sonhava em ser muito grande.
Ele fechava os olhos e sentia tudo aquilo que seus pensamentos mais enlouquecidos e divertidos permitiam.
Ele queria ser artista, ator... Mas se sentia preso numa moldura que não lhe pertencia.
Do nada, pego de surpresa, empurraram ele para fora da moldura e ele não sabia o que fazer com todo aquele espaço livre a sua volta. Estava acostumado com o limite.
Agora ele experimentava a liberdade de realmente ser quem ele quisesse ser.
Experimentou. Se apaixonou. Se entregou.
Então iniciou um relacionamento carinhoso com o teatro.
Vivenciou descobertas, diversões, alegrias, tristezas, perdas... Descobriu a rotina de um casal.
E tudo voltou a ficar preso em uma moldura, novamente. Dessa vez a moldura era maior, muito maior. Mas ainda existiam os limites.
E o infinito? Quando ele provará isso?
Cansou... Pensou em parar. Se divorciar. Arrumar outra paixão.
Então, como em uma de suas imaginações psicodélicas, um anjo em forma de criança lhe perguntou se ele acreditava nele mesmo.
Nesse exato momento, ele lembrou daquilo que um dia ele sonhou ser... E percebeu ter abafado, sufocado, negligenciado aquela pessoa alta que ele queria ser.
A moldura caiu de novo... Um enorme espaço de possibilidades apareceu em sua frente.
"- O que fazer com tudo isso?" - pensou ele, em seu quarto.
Abraçou! Aceitou! Se desafiou! Acreditou...
Resolveu sonhar, porém dessa vez com os olhos bem abertos.
Ele ainda se questiona, ocasionalmente, qual a diferença entre seus sonhos, desejos e realidade?
Talvez sempre se questionará.
Talvez seja isso que o faça querer ser tão grande.
O desconhecido.
A oportunidade.
Os caminhos...