Caxias do Sul - Rio Grande do Sul - Brasil

Diário online do ator Márcio Ramos - relatos, pensamentos, agenda, críticas...

sexta-feira, 11 de março de 2011

2010 - Ao Quadrado

Após passarmos o ano de 2009 apresentando a peça "Paranoia (Sit Down Comedy)" em eventos e teatros de Caxias do Sul, estava na hora de novas experiências para o grupo...



No final de 2009 inscrevemos um projeto no FINANCIARTE, da Secretaria da Cultura de Caxias do Sul, para montar uma peça baseada na história "Alice no País das Maravilhas" (que futuramente se chamaria "Ali-se ...aqui ou acolá..." - mas isso é história para outro post). Com esse projeto aprovado, senti a pressão de ter um projeto financiado pela prefeitura municipal com a Cia2 envolvida, sendo que eramos um grupo relativamente novo. Com isso, tive a idéia de criar algo para "instigar" os membros do grupo a evoluirem seu processo de aprendizagem no teatro - eis que surgiu o projeto "Novos Diretores"!



O projeto "Novos Diretores" consistia em membros do grupo dirigirem esquetes com outros membros do grupo no elenco, tento que criarem todos os passos de uma montagem. Em dezembro de 2009 reuni todo elenco o joguei a idéia... silêncio... "-Mas vamos ter que dirigir sozinhos?", alguns indagavam. Entre conversas, idéias, sugestões, decidimos que seriam 3 pares de diretores para 3 esquetes. Todos teriam até o início de 2010 para montar um mini-projeto de apresentação (texto, elenco, concepção, fotos de inspiração, justificativas) para mostrarem ao resto do grupo o que eles iriam dirigir. As duplas eram: Gabriel Leonardelli e Rachel Zílio, Camila Cardoso e Vinicius Padilha e Gabriel Zeni e Rachel Zílio. Ainda na primeira reunião, os diretores (sem saberem o que iriam dirigir) acharam interessante escolherem o elenco de suas cenas, pois assim facilitaria na escolha de texto e idéias.

Como esse era um processo de desenvolvimento para eles crescerem como artistas, eu iria atuar apenas como ator em uma das cenas (a dirigida por Camila e Vini), iria fazer ajustes numa possível "direção geral", caso fosse necessário.

No início de 2010 nos reunimos para conhecermos quais seriam as 3 esquetes, e sobre o que elas falariam.
Camila Cardoso e Vinicius Padilha montariam a cena "LeguMaravilha", tendo no elenco a Rachel Zílio, Aline Marcon e eu.
Gabriel Leonardelli e Rachel Zílio montariam um texto dramático escrito pelo Leonardelli, tendo no elenco o Gabriel Zeni, Bruno Agostini e o próprio Leonardelli.
Rachel Zílio e Gabriel Zeni montaria um texto antigo, tendo no elenco o Vini padilha e a Camila Cardoso.

Iniciamos os ensaios em março de 2010, nos encontrando sempre nas segundas-feiras de noite. Cada diretor, se achasse necessário, iria marcar ensaios extras. Logo no início do ano marquei a data de estréia da peça (final de julho), o que ajudou a manter um compromisso sério com o projeto.

Durante o processo, alguns trocaram de textos e todos acharam interessante ser uma peça só com esquetes de comédia. Nisso, o Leonardelli escreveu um novo texto chamado "Maria Orgulhosa", mantendo o mesmo elenco, e a Rachel Zílio escreveu outro texto, chamado "Uma Vez Por Mês", também mantendo o elenco.

A decisão de montarmos uma peça que fosse calcada na comédia foi nossa melhor decisão, e foi uma decisão em conjunto, quase que orgânica, natural.
Durante os ensaios eu via todo o povo focado, interessado, pesquisando, adorando a criação de suas esquetes - que aquilo tudo me contagiou e resolvi escrever uma esquete para a peça, também.

Eis que surge a quarta esquete da peça, chamada de "Do Fundão", tendo no elenco a Aline Marcon, Rachel Zílio, Camila Cardoso, Vinícius Padilha e eu. Convidei os Gabriel´s - Zeni e Leonardelli - para dirigirem comigo a cena e todos aceitaram.

Nisso a Cia2 tinha 04 esquetes em sua nova peça, e cada núcleo se encontrava em horários diferentes para seus ensaios. Durante alguns meses perdemos aquela "energia de grupo" que encontramos durante o "Paranoia", e damos lugar para quatro mini-grupos com energias bem diferentes. Daí a idéia para o nome da peça "Ao  Quadrado", pois durante o período a Cia2 se transformou em 4. O nome da peça era só uma brincadeira, assim como toda a peça seria. Na sonoplastia tinhamos o Elvis Barbieri e a iluminação o Juarez Barazzeti.



Desde o release, nome da peça, escolha de material gráfico, tudo era decisão coletiva. Quem trabalha, ou já trabalhou, com um grupo grande de pessoas - todas tendo voz ativa - sabe como isso é delicado. Mas todos se respeitaram muito, sabiam de seus limites dentro de seu espaço criativo e conseguimos criar um ambiente divertido e controlado. Claro que, assim como durante a montagem do Paranoia, nem tudo eram flores o tempo todo... Existiam algumas tensões, mas todos eram resolvidas visando o melhor do grupo e da peça.

Como eu já havia passado pela experiência de direção antes, muitas vezes apareciam situações que eu automaticamente queria resolver ou achava que deveria ajudar. Mas por outro lado eu criei todo aquele projeto para eles se virarem - literalmente. Então passei a cuidar da cena que eu dirigia, procurava estar o máximo disponível para meus diretores e comentando as outras cenas apenas quando solicitado.

*As experiências pessoais dos outros diretores serão comentadas pelos mesmos, em futuros posts.

Perto da estréia marcamos uma "pré-estréia" para "amigos only", onde todos teriam de apresentar suas cenas por completo, com trilha sonora / figurinos / maquiagem, tudo pronto. Filmamos, para que assistíssemos antes da estréia, assim teríamos tempo para algumas alterações. A nossa surpresa foi que nossos amigos riram muito!!! Comentaram até que chegava a doer a mandibula, de tanto rir. Estávamos tão acostumados com o material da peça, que nem achavamos mais nada engraçado, e durante esse ensaio-geral as risadas nos contagiaram e nos alimentaram de tal forma que não queriamos mais ensaiar a peça sem público, havíamos viciado no resultado imediato do público.

No dia da estréia lembro que tudo que poderia dar errado, durante a montagem de palco e ensaio, deu errado! Era cenário que não funcionava, ator que não chegava, diretor passando mal de nervosismo, eu achando que mais ninguém iria rir da peça - que tudo aquilo não passava de um grande equívoco. Nos momentos finais eu tendo a questionar muito meu trabalho, e como eu ainda me via como responsável de todo elenco, afinal fui eu que coloquei eles naquela situação, achava que tudo estava fraco.



Conversamos e decidomos não esperar mais pelas risadas, elas não poderiam ser nosso objetivo, e sim nosso resultado. Nas ultimas horas que antecipavam a estréia decidimos ir com tudo: exagerar, alimentar o olhar do colega de cena com nosso próprio olhar, ir com tudo mesmo. E se tivessemos silêncio como resultado, mais nós iriamos nos jogar de cabeça e aproveitar aquele momento de apresentação.

Como eu estava errado!!!! Não havia nada de errado com a peça...pelo contrário, após 10 anos fazendo teatro aquela foi a estréia que eu mais me senti em casa como ator. O jogo com a platéia foi estabelecido com muita facilidade, atores/diretores se divertiam e improvisavam em suas cenas, com direito a aplausos em cena aberta. A energia que se criou no teatro aquele dia foi algo incrível!!! Delicioso!!!

Toda a peça tem uma estética bem simples, com influencias bregas, com o foco no texto(piada) X ator(jogo) X platéia(foco) - a velha e básica triangulação. Ainda encontro pessoas que comentam que essa foi a melhor peça que eles já assistiram, mas sabem pq? Pq pensamos muito neles, durante o processo. Iriamos criar um momento de puro entretenimento para o público, o objetivo era divertir quem fosse ver a peça - e essa energia, sem dúvidas, ultrapassou as paredes do teatro naquele dia.


Abraços a todos,

Márcio Ramos

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