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Diário online do ator Márcio Ramos - relatos, pensamentos, agenda, críticas...

sexta-feira, 11 de março de 2011

2010 - (E)Terno

Em 2010 surgiu a oportunidade da Cia2 apoiar o projeto "(E)Terno", espetáculo solo da atriz Tefa Polidoro, financiado pelo Premio de Incentivo à Montagem Teatral, da Prefeitura de Caxias do Sul. Esse trabalho também seria seu projeto de finalização do curso de graduação no curso de cênicas da UFRGS, com especialização em atuação.

Era o estágio de Atuação II de Tefa Polidoro, que já havia trabalhado com a Cia2 desde o Paranoia, até a recente direção do espetáculo Ali-se. Nesse projeto ela havia me convidado para realizar a direção do espetáculo.

Para o projeto, Tefa desenvolveu um blog relatando cada passo do projeto: http://www.projetoeterno.blogspot.com/ 

O projeto “(E) TERNO” pretende colocar ao público, através do teatro e da dança,num espetáculo solo, imagens e sensações, relacionados aos sentimentos de espera e solidão, com o objetivo de instigar o público a vivenciar todas as angústias, decepções e incertezas de uma mulher que aguarda notícias do marido que viajou. Quando se trata de sua filha recém-nascida, mostra-se uma rocha, mas tratando-se de suas incertezas e saudades, um gelo que derrete.



Sinopse:
O que havia acontecido exatamente? Nada. Naquela noite molhada de chuva e de vento, uma criança que brincava havia acendido o fogo... Naquela noite de poças e lembranças, um simples vento passa... O espetáculo “(E) TERNO” pretende colocar ao público, através do teatro e da dança, num espetáculo solo, imagens e sensações relacionados aos sentimentos de espera e de solidão com o objetivo de instigar o público a vivenciar as angústias, decepções e incertezas de uma mulher que aguarda notícias do marido que viajou.


Colaborar com um projeto tão significativo e pessoal foi uma experiência fortíssima. Tefa, sem dúvida alguma, é a grande idealizadora e criadora desse projeto. Foi um processo de direção completamente novo para mim. Eu tinha nas mãos uma das atrizes mais talentosas com que já tive o orgulho de trabalhar, e ela logo no primeiro ensaio, onde apenas iria me mostrar "alguns meteriais que eu andei pesquisando", me surpreende com um material sólido, forte e extremamente significativo.

Esse não seria um trabalho onde eu me sentiria totalmente diretor, pois estava dividindo o processo criativo com a Luciane Oledzki, coordenadora da Tefa em Porto Alegre e entre a própria Tefa. Então toda decisão era tomada entre a Tefa se dividindo entre o que a Lu propunha e o que eu propunha.

Como o material era muito significativo, para o meu olhar, e numa conversa com a Tefa sobre esse não ser um espetáculo contemporâneo que ninguém entende - eu procurava puxar ele cada vez mais para o "senso comum", não menosprezando o público. Mas sabemos que quando estamos envolvidos com arte e cultura, nossas percepções ficam mais aguçadas, e o publico em geral não é estimulado dessa maneira. Assim eu procurava entrar em acordo coma  Tefa que o material já encontrado estava ótimo, para aquele momento.

Durante um ensaio, lembro da Tefa me mostrar uma cena que ela havia criado, onde ela me remetia a uma cena do filme "Memórias de Uma Gueixa", parecia que ela segurava um lenço vermelho em sua mão, balançava de um lado para o outro, cantarolando uma música de sua infância, relembrando memórias do passado e reverberando em lágrimas em cena. Era lindo! Eu chorei assistindo. Ao acabar, com a maior cara lavada ela me olha e pergunta: "o que tu achou?"... Pra minha surpresa ela nem havia se emocionado, era pura prática e técnica. Até eu era levado pela história contada...

Na estréia de Caxias o clima era de consolidação. Estavamos, em 2010, realizando a terceira estréia de uma peça teatral. Após a peça eu via o público indo embora com os olhos vermelhos, cheios de lágrimas. Pessoas ainda "fungando"... Era teatro se transformando em poesia, se transformando em significados e histórias, se transformando em teatro- de novo.

Na estréia de Poa o clima era totalmente diferente. Cheguei durante um ensaio da Tefa com a coordenadora dela, a Lu. Lemabram da cena que eu descrevi acima? Havia sido brutalmente cortada da peça pela Lu. Ali, naquele território, eu não era mais O Diretor da peça, no máximo eu estava ali para auxiliar a Tefa em tudo que ela precisasse. E foi incrível ver que vivemos em realidades completamente diferentes.

No meio acadêmico, ainda mais um polo como Porto Alegre, onde acreditam serem influentes na arte nacional, alguém que sai de Caxias é apenas mais um colono, do interior. Eu não estava ali pra provar nada a ninguém, estava ali p/ ajudar a Tefa - coisa que um diretor sensível irá fazer - manter a energia positiva de sua atriz. Mas a Tefa era testada a cada momento! Já não bastava toda pressão que passamos durante o Ali-se, toda pressão daquele ser seu trabalho de conclusão da faculdade, a coordenadora queria extrair o melhor da Tefa! E cada interferência da Lu era recheada de conhecimento e técnica, era uma verdadeira aula de direção pra mim. Mas restando quase 1 hora para a estréia, não sei se aquele era o momento oportuno.

Saí de Poa com o coração na mão. Deixei o (E)terno num momento que parecia mais precisar de mim. Mas eu precisava voltar pra Caxias p/ trabalhar. Por sorte, na técnica do teatro lá em Poa a Tefa estava rodeada por "almas iluminadas", amigas e colegas de curso que realmente se importavam com o espetáculo.

Resultado de tudo isso? A nota dela foi A, nessa disciplina!!!!

Abraços,

Márcio Ramos

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