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"TEATRO
O torto debochado
‘O Fauno’, monólogo com Márcio Ramos, estreia sábado
De joelhos flexionados, corpo pintado e envergado, mantendo seu andar no plano médio, a figura asquerosa perambula pela cena. A partitura corporal foi um dos primeiros dados que o ator Márcio Ramos recebeu da autora e diretora Ana Fuchs para a criação de O Fauno. O monólogo que estreia sábado, à meia-noite, no Teatro do Encontro, traz o personagem mitológico para o mundo dos mortos, para o ambiente teatral, propondo reflexões e zombarias. No confronto entre a invenção do teatro e as questões propostas, destacando-se na cenografia, fios tramam realidade e ficção, linhas da vida.
– É como se ele vivesse tanto tempo à margem, foi tão ridicularizado, que não tem um pingo de autopiedade. Age como uma criança, conduz as cenas sempre no limiar entre a vida e a morte – diz o ator.
Ator, autor, bailarino e diretor, aos 27 anos Márcio Ramos está diante de um projeto significativo em sua trajetória. Diz que, na montagem, não está solo. A plateia é parte do jogo cênico. Tem ainda a cumplicidade de Ana, da amiga e assistente de direção Tefa Polidoro, da trilha sonora de Fran Duarte e Tita Sachet – composta por ruídos sonoros, ambientações musicais –, do cenário de Ana Lia Branchi, do figurino de Cristina Lisot.
– Cada um na sua função, tudo fluiu de uma forma equilibrada – conta.
Por isso, ele quer que a montagem seja seu passaporte para pegar a estrada, fazendo o que mais lhe interessa profissionalmente: lançar provocações a partir do espaço cênico. Mas, ao que parece, agora de um jeito menos passional, porém mais apaixonado e maduro.
– É o projeto em que mais invisto. Sempre quis dizer coisas em cena, mas aqui não é necessário ser moralista. Este Fauno é muito debochado. Pelo olhar dele, me divirto muito fazendo. Não preciso mais me preocupar em questionar, botar o dedo na cara das pessoas – afirma o intérprete.
Para encarar o desafio, entrou numa roda-vida de preparação, mudando alimentação, fazendo le parkour, pilates, academia. O tônus corporal está renovado, a disposição ainda mais vivaz. É o que o faz planejar.
– Não dá mais para mostrar as coisas por pouco tempo. Esta é uma peça para circular. O que estou fazendo tem muito significado, não existe um apelo de virtuosismo gratuito – explica.
Montagem que insere o público em meio à cena, O Fauno busca referências na mitologia greco-romana para falar, também, sobre paraíso, inferno e limbo. O lugar do mito no mundo e as reflexões em torno das escolhas cotidianas são referência do texto de Ana Fuchs. A partir dele, a figura meio homem, meio cabra, serve um banquete cênico entre o tosco e o torto, a ironia e a irreverência. Então, a tal fé cênica brota intensa, propondo arrebatamento.
– Aos poucos, fui descobrindo que eu também estava ali – conclui Ramos.
carlinhos.santos@pioneiro.com CARLINHOS SANTOS
Serviço |
- O que: peça O Fauno, com Márcio Ramos |
- Quando: dias 29, à meia-noite, e 30, às 21h |
- Onde: sede do Teatro do Encontro (Ernesto Alves, 143 – bairro N. Sª. de Lourdes). A capacidade é de apenas 25 pessoas |
- Quanto: R$ 30, à venda no Espaço Multicultural (Pinheiro Machado, 2.698 – Fone: 3025.7600) |
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